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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

BULLYING

O NOVO FENÔMENO DA VIOLÊNCIA ESCOLAR

José Ozildo dos Santos
Rosélia Maria de Sousa Santos

RESUMO

O bullying, de forma assustadora vem aumentado nas últimas décadas, não somente no Brasil, mas em vários outros países do mundo, ao ponto de já ser considerado uma epidemia mundial. No ambiente escolar, ao ser constatada a prática do bullying, medidas imediatas devem ser tomadas visando o seu fim. No entanto, mesmo tomando providências, nem sempre a prática do bullying extingue-se, obrigando, às vezes, a vítima a mudar de instituição, quando trata-se de alunos, ou deixar de lecionar, quando o agredido é professor. Independente da forma como esse fenômeno se manifeste ele é sempre um comportamento ofensivo, aviltante, humilhante, que desmoraliza de maneira repetida, com ataques violentos, cruéis e maliciosos, sejam físicos sejam psicológicos.

Palavras-chave: Bullying. Ambiente escola. Problemas e conseqüências.

1 INTRODUÇÃO

O bullying, embora seja registrado noutros espaços, é no ambiente escolar onde ele vem se proliferando com maior intensidade, principalmente, porque a escola é o local onde se convive com a diversidade humana e nele existem indivíduos com diferentes comportamentos.
O fenômeno do bullying é caracterizado como uma violência moral e psicológica. Vários teóricos, a exemplo de Lisboa, Braga e Ebert (2006), Fante (2005), Ferreira e Tavares (2009), Grossi e Santos (2009), e Lopes Neto e Saavedra (2003), alertam que o referido problema ecoa entre os estudantes das escolas públicas ou privadas, independentemente do turno, de ano, da localização, do tamanho e da condição social.
Essa realidade mostra o quanto é necessário a adoção de medidas e de ações que possam inibir a prática desse tipo de violência, que causa não somente danos físicos como também é caracterizado por ações covardes, desumanas e preconceituosas, discriminando suas vítimas e produzindo seqüelas que deixam marcas para sempre.
Mais do que nunca, a escola precisa deixar de ser palco da crescente epidemia do fenômeno bullying e passar a ser o espaço onde crianças e adolescentes possam aprender a conviver e aceitar que todos os seres humanos são diferentes.
As vítimas do bullying no contexto escolar nem sempre possuem forças suficientes para reagirem sozinhas as agressões que lhe são dirigidas, sendo, portanto, necessária a intervenção e o auxílio dos profissionais da educação, fazendo com que as mesma se sintam protegidas e capazes de sair da situação de agredidas.
O presente trabalho tem por objetivo avaliar a dimensão do fenômeno bullying que vem se expandido rapidamente no ambiente escolar e foi desenvolvido a partir de uma pesquisa bibliográfica.

2 BULLYING : Um grande problema na escola
2.1 O FENÔMENO DO BULLYING

O termo bullying, de origem inglesa, é de difícil tradução e foi adotado no Brasil por não existir outra palavra com significado correspondente.
Informa Fante (2005), que o termo bullying surgiu nos anos 1990, denominando a violência que evidencia o preconceito e se configurando numa forma de violência cruel, contínua, sistemática. O objetivo de quem exerce esse tipo de comportamento é ter poder sobre o outro ou causar sofrimento psicológico e /ou físico, ou simplesmente, sentir prazer.
Nesse sentido, acrescentam Lisboa; Braga e Ebert (2009, p. 60) que:

O termo bullying não possui tradução literal para o português. Bully é o termo, em inglês, para “valentão” e bullying pode ser traduzido por “intimidação”, o que reduz a complexi­dade do fenômeno a uma das suas múltiplas formas de manifestação, ou seja, a um com­portamento de ameaças e intimidações.

Partindo desse princípio, entende-se que o termo bullying diz respeito às ações brutais, que tiranizam, amedrontam e intimidam. E, se configuram como uma variedade de comportamentos de maus-tratos, promovidos por um ou mais indivíduos, com o objetivo de atingir outro. Tais atitudes podem ser de caráter físico e/ou psicológico.
Na opinião de Lisboa; Braga e Ebert (2009, p. 60), o bullying é:

[...] o fenômeno pelo qual uma criança ou um adolescente é sistema­ticamente exposta(o) a um conjunto de atos agressivos (diretos ou indiretos), que ocorrem sem motivação aparente, mas de forma in­tencional, protagonizados por um(a) ou mais agressor(es). Essa interação grupal é caracte­rizada por desequilíbrio de poder e ausência de reciprocidade; nela, a vítima possui pouco ou quase nenhum recurso para evitar a e/ou defender-se da agressão.

O ato bullying ocorre quando um ou mais alunos passam a perseguir, intimidar, humilhar, chamar por apelidos cruéis, excluir, ridicularizar, demonstrar comportamento racista e preconceituoso ou, por fim, agredir fisicamente, de forma sistemática, e sem razão aparente, um outro aluno.
O que distingue o bullying de outras formas de agressão é, principalmente, o caráter repetitivo e sistemático e a intencionalidade de causar dano ou prejudicar alguém que normalmente é percebido como mais frágil e que dificilmente consegue se de­fender ou reverter a situação (LOPES NETO; SAAVEDRA, 2003).
O bullying se apresenta como um fenômeno que expressa uma das muitas formas de violência no âmbito escolar, sem um motivo aparente, de forma covarde, porque é intencional, apresentando-se numa relação desequilibrada, a fim de tirar a paz de suas vítimas e ainda, quando não causa sequelas físicas, pode ter consequências psicológicas ou emocionais.
Ressaltam Lisboa; Braga e Ebert (2009, p. 69), que “o bullying é um fator de risco para a violência institucional e social, bem como para compor­tamentos antissociais individuais”.
Informam Ferreira e Tavares (2009, p. 192) que:

[...] o bullying tem sido um problema importante e crescente no mundo, com diversas e sérias conseqüências individuais e sociais. É importante, evitar a agressão e diminuir os impactos minimizando os fatores que contribuem para a violência no ambiente escolar, a qual pode ser detectada desde a infância, como conseqüência de problemas familiares ou sociais.

Em momento algum o bullying pode ser confundido como uma brincadeira e jamais deve ser admitido como uma situação natural. Tal fenômeno produz sofrimento em suas vítimas. Por isso, para evita a sua disseminação no ambiente escolar é de suma importância que professores e demais profissionais vinculados ao processo educativo, estejam atentos à essa situação, desenvolvendo ações e promovendo intervenções que interrompam esse processo.
Explicam Lisboa; Braga e Ebert (2009, p. 62) que:

O bullying pode ser de­nominado relacional, quando a agressividade se manifesta a partir de ameaças, acusações in­justas e indiretas, roubo de dinheiro e perten­ces, difamações sutis, degradação de imagem social que podem resultar na discriminação ou exclusão de um ou mais jovens do grupo.

O definido como um subtipo de comportamento agressivo, o bullying gera atos vio­lentos, deixando suas vítimas vulneráveis. Tal fenômeno pode ser encarado como um processo de de­senvolvimento filogenético, de natureza sociocultural, originário das pressões do microssistema dos grupos de pares ou produzido por motivações individuais.
Um estudo divulgado pela ABRAPIA - Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (2003), apresenta uma classificação para o bullying e afirma que o referido fenômeno se dá sob as seguintes formas:
a) Atitude sexual: assediar, induzir e/ou abusar;
b) Exclusão social: ignorar, isolar, excluir;
c) Atitude psicológica/física: perseguir, amedrontar, olhar ameaçadoramente, não aceitar opiniões, impor sua vontade, aterrorizar, intimidar, dominar, infernizar, tiranizar, chantagear, manipular, bater, colocar apelidos.
No entanto, é importante também destacar que as intimidações podem também ter caráter homofóbico ou racial/étnico, constituindo, desta forma, uma agressão frontal à dignidade da pessoa humana.

2.2 CARACTERIZAÇÃO E CAUSAS DO BULLYING

Acrescentam ainda Lisboa; Braga e Ebert (2009, p. 62), que “o bullying como fenômeno dinâmico e grupal é reforçado ou enfraquecido por uma complexa rede de interação entre estímulos aos quais es­tão expostos os jovens, as famílias e as escolas, permeados pelo contexto sociocultural”.
Tal fenômeno, se não identi­ficado e devidamente evitado, pode produzir em suas vítimas sérios danos, principalmente, de natureza psicológica.
Definido como uma subcategoria do conceito de violência, o processo de bullying, segundo Chalita (2008), pode se manifestar de diferentes formas, principalmente, através dos seguintes com­portamentos físicos agressivos ou violentos:
a) chutar;
b) empurrar;
c) bater;
d) manifestações verbais como gozações e atri­buição de apelidos pejorativos.
Por suas ações, o bullying causa danos psicológicos irreparáveis ao psiquismo (se não identificados e tratados), à personalidade, ao caráter e à autoestima de suas vítimas, manifestando suas sequelas ao longo de toda a vida.
Informam Lisboa; Braga e Ebert (2009), que quanto às atitudes que constituem o processo de bullying, tal fenômeno pode ser dividido em:
a) bullying direto: agressões físicas e verbais;
b) bullying indireto: envolve uma forma mais su­til de vitimização, englobando atitudes como indiferença, isolamento, exclusão, difamação, provocações relacionadas a uma deficiência.
Chalita (2008, p. 82-83) descreve as características dessas ações de violência da seguinte forma:

O bullying direto é mais comum entre agressores meninos. As atitudes mais frequentes identificadas nessa modalidade violenta são os xingamentos, tapas empurrões, murros, chutes e apelidos repetidos. O bullying indireto é a forma mais comum entre o sexo feminino e crianças menores. Caracteriza-se basicamente por ações que levam a vítima ao isolamento social. As estratégias utilizadas são difamações, boatos cruéis, intrigas e fofocas, rumores degradantes sobre a vítima e familiares, entre outros.

É importante registrar que no bullying indireto também estão incluídas aquelas provocações relacionadas ao racismo e a opção sexual.
O bullying pode ser praticado tanto pelos meninos como pelas meninas, e as pesquisas demonstram maior proporção de autores entre o sexo masculino, especialmente quando ocorre o uso da força física. As garotas usam meios mais sutis e indiretos para mortificar e atemorizar seus pares, tais como espalhar boatos e excluir suas vítimas do grupo de forma a fazer com que outras pessoas se afastem delas também.

2.3 TIPOS DE BULLYING PROMOVIDOS NOS AMBIENTE ESCOLAR

O bullying escolar é uma forma de agressão bastante antiga. Ele se caracteriza, principalmente, por agressões físicas e psíquicas, produzindo danos de diferentes formas.
Observam Araújo e Nunes (2010, p. 393) que:

Como o bullying escolar não deixa marcas visíveis, torna mais complicado ainda para os adultos identificarem os agressores e as vítimas, mas não impossível. Basta um mínimo de dedicação e atenção por parte desses docentes, que são as pessoas mais próximas dos alunos dentro da escola, para identificá-los.

No ambiente escolar, ao ser constatada a prática do bullying, medidas imediatas devem ser tomadas visando o seu fim. No entanto, mesmo tomando providências, nem sempre a prática do bullying extingue-se, obrigando, às vezes, a vítima a mudar de instituição, quando trata-se de alunos, ou deixar de lecionar, quando o agredido é professor(a).
Acrescentam ainda Araújo e Nunes (2010, p. 394) que:

Um dos fundamentos básicos do bullying escolar é com relação à discriminação e à intolerância ao outro. Temos então discriminação de gênero (meninos contra meninas), de raça (contra negros, índios) social, (ricos vistos como esnobes ou pobres) alunos novatos, ou qualquer outro estereótipo, (gordinho, magricela, afeminado).

Geralmente, quando se fala em bullying escolar está se referindo ao isolamento intencional, aos apelidos inconvenientes, às gozações que magoam e constrangem, etc. em alguns casos, as vítimas de bullying no contexto escolar sofrem extorsão de bens pessoais. Noutros, são alvos de agressões por puro racismo e ou homofobia. Existem também aquelas vítimas que na escola sofrem agressões pelo simples fato serem ‘diferentes’, principalmente, quando são gordas ou pobres.
Por outro lado, a escola também é palco de agressões que podem ser qualificadas como bullying homofóbico, onde a agressão está relacionada ou faz relação à sexualidade da vítima.
Calhau (2010) ressalta que existem diversas atitudes que podem ser configuradas como bullying homofóbico, destacando as seguintes:
a) constrangimento ilegal;
b) difamação;
c) calúnia,
d) lesão coporal,
e) injúria.
 Nos últimos anos tem se intensificados os casos de agressões a homossexuais no Brasil. Frequentemente, os jornais noticiam que gays e lésbicas são espancados em praças e vias públicas. Em alguns casos, as agressões culminam com a morte da vítima. Essa situação tem chamada a atenção de vários segmentos da sociedade civil organizada e do próprio poder público.
Acrescentam Calhau (2010, p. 78), que no Brasil:

[...] são comuns os casos de pessoas de pessoas homossexuais que são vítimas de humilhações nas escolas, clubes, ambientes de trabalho, etc. e que são vitimizadas no seu dia a dia. Muitos homossexuais são perseguidos no meio escolar, ambiente de trabalho, etc., configurando situações de bullying homofóbico.

Assim, diante das inúmeras atitudes desrespeitosas e do alto índice de violências contra gays, lésbicas e transgêneros em todo o país, o governo federal instituiu o ‘Programa de Combate à Violência e a Discriminação contra GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) e de Promoção da Cidadania Homossexual: Brasil Sem Homofobia’, que por objetivo “promover a cidadania de gays, lésbicas, travestis, transgêneros e bissexuais, a partir da equiparação de direitos e do combate à violência e à discriminação homofóbicas, respeitando a especificidade de cada um desses grupos populacionais” (BRASIL, 2004, p. 11).
O bullying homofóbico se manifesta de diversas formas no contexto escolar. Geralmente, na escola, se uma menina joga futebol, é chamada de ‘sapatão’ e se um menino tem pouca habilidade para esse tipo de esporte é rotulado de ‘viadinho’. É importante destacar que tais crianças são rotuladas desta forma, por não seguirem o modelo padrão imposto como norma pela sociedade.
Lopes Neto (2005) chama a atenção para uma forma mais recente de intimidação, o chamado cyberbullying, concretizado pela utilização das tecnologias de comunicação (computadores e celulares ligados à Internet), visando à realização de agressões.
No Brasil, essa forma de agressão à pessoa humana é muito comum nas redes de relacionamento social, onde são veiculadas mensagens injuriosas, que se disseminam rapidamente, constituindo-se em “um dos desafios para as autoridades brasileiras. Muitos avanços ocorreram nos últimos dois anos para a punição de seus realizadores, mas também é outra epidemia” (CALHAU, 2010, p. 59).
Através da prática do ciberbullying a vítima é exposta apenas para um grupo limitado, por exemplo, ao ambiente escolar. Ela é agredida e humilhada diante perante um grande número de pessoas, que, utilizando a rede mundial de computadores, pode visualizar uma fotografia ou ler um texto ridicularizando a vítima. E, esta facilidade proporcionada pelas tecnológicas da informação faz com que o dano seja intensificado.
Observa ainda Lopes Neto (2005), que os promotores dessa prática nutrem a falsa sensação que como agem no anonimato, gozam do benefício da impunidade. E isto é o que estimula esse tipo de comportamento.
Por outro lado, o cyberbullying pode ser uma continuação do bullying que já ocorre em outros contextos. Esse tipo de agressão se configura como uma ofensa real, que pode produzir importantes riscos para o desenvolvimento de jovens na atualidade.
Por outro lado, Calhau (2010, p. 39) argumenta que o bullying também pode ser resultante da omissão, podendo “ser produzido com atos de ignorar, ‘dar um gelo’ ou isolar a vítima. Se provocados por um grupo de alunos numa sala de aula podem ser devastadores para a autoestima de uma criança”.
O bullying por omissão se configura quando a instituição ou as pessoas, que deveriam amparar/ajudar/proteger a vítima, toma conhecimento das agressões pelas quais a vítima, seja ela criança ou adulta, está passando e não tomar providências, visando coibir essas práticas de violências.
Desta forma, o bullying por omissão pode ser uma resultante das outras formas de bullying, conforme frisa Fante (2005).
No entanto, independentemente da forma como se manifesta, o bullying será sempre um ato criminoso, configurando-se num importante aspecto da violência social e escolar.

2.4 AS VÍTIMAS DO BULLYING E SUAS CONSEQUÊNCIAS

As consequências negativas do bullying repercutem-se em todos os intervenientes neste processo, incluindo os agressores. Estes apresentam tendência para a depressão e para ataques de culpabilidade, mantendo-se esta tendência, por vezes, por longos períodos.
De acordo com Ferreira e Tavares (2009, p. 193):

O comportamento agressivo através do bullying, produz tristes conseqüências para a aprendizagem do agressor e da vítima, bem como, transtornos psicológicos graves. Devido à agressividade na escola ser um problema universal, não sendo apenas um problema da instituição, mas também da família e da sociedade, ela deve compreender que o agressor e a vítima de bullying pode ter conseqüências negativas imediatas ou tardias.

As conseqüências do bullying não são somente de natureza física. Elas atingem, fortemente, o campo psicológico da vítima, produzindo seqüelas que marcam a vítima para sempre. Isto porque o bullying é uma forma de violência e a violência marca o indivíduo agredido, fazendo dele mais do que uma vítima: um condenado a carregar consigo as marcas da agressão sofrida.
Geralmente, as crianças mais novas apre­sentam maior probabilidade de sofrer vitimização e de atuar como agressor em processos de bullying. À medida que elas crescem e se desenvolvem física e emocionalmente, terão menos chances de sofrer vitimização por parte de seus pares.
As consequências geradas pelo bullying são várias. Efeitos danosos de curto e longo prazo são gerados nas vítimas destas práticas.
Informa Lopes Neto (2005, p. 168) que:

Alvos, autores e testemunhas enfrentam conseqüências físicas e emocionais de curto e longo prazo, as quais podem causar dificuldades acadêmicas, sociais, emocionais e legais. Evidentemente, as crianças e adolescentes não são acometidas de maneira uniforme, mas existe uma relação direta com a freqüência, duração e severidade dos atos de bullying.

A perda de auto-estima e da autoconfiança, bem como o retraimento, a dificuldade de concentração, o absenteísmo escolar, a fobia da escola e as tentativas de suicídio, estão entre os danos entre os de curto prazo, enquanto que a ansiedade, a depressão, a timidez exagerada, o isolamento social, o medo de estabelecer relações com estranhos e o sentimento de culpa e vergonha, são exemplos de danos de longo prazo.
No contexto escolar, adverte Almeida (2008, p. 7), que o referido fenômeno:

[...] está desencadeando uma nova síndrome: SMAR (Síndrome dos Maus Tratos Repetitivos), estimulando a delinqüência juvenil. É uma questão social e educacional de relações de poder. Uma relação desigual entre iguais. Interfere no cerne da autoestima, e qualquer um com características específicas (timidez, insegurança, diferenças físicas, culturais ou raciais) tornam-se alvos facilmente.

Visando conter o avanço desta síndrome, é de fundamental importância, investigar, analisar e estudar os comportamentos agressivos/violências, que possam ser enquadrados com bullying. E, considerando agressores e agredidos, desenvolver ações que possam combater essas atitudes, pondo em prática estratégias preventivas, que envolvam, principalmente, atores/educadores, estudantes e pais. Sem esse envolvimento, torna-se praticamente impossível conter o avanço do bullying no contexto escolar.
Fante (2005) destaca que muitas vítimas de bullying sofrem caladas e não falam com ninguém, apesar de terem sido maltratados, atitude que confirma as dificuldades que muitas crianças e adolescentes possuem para lidar ou enfrentar a violência que sofrem.
No quadro clínico, diversas patologias se manifestam nas vítimas de bullying. Abordando essas conseqüências, Silva (2010) relacionam as seguintes:
a) sintomas psicossomáticos: cefaléia, cansaço crônico, insônia, dificuldade de concentração, náuseas, diarréia, boca seca, palpitações, alergias, crise de asma, sudorese, tremores, etc.;
b) transtorno do pânico: medo intenso e infundado que surge do nada, sem qualquer aviso prévio;
c) fobia escolar: medo de frequentar a escola, ocasionando repetência por falta, problias de aprendizagem e/ou evasão escolar;
d) fobia social (transtorno de ansiedade social - TAS): também conhecida como timidez patológica, (a vítima) passa a evitar qualquer evento social ou procura esquivar-se deles, o que traz sérios prejuízos em sua vida acadêmica, profissional, social e afetiva;
e) transtorno de ansiedade generalizada (TAG): geralmente são pessoas impacientes, que vivem com pressa, negativistas e que têm a impressão constante de que algo ruim pode acontecer a qualquer momento;
f) depressão: afeta o humor, os pensamentos, a saúde e o comportamento.
g) anorexia e bulimia: transtorno alimentar causado pelo pavor descabido e inexplicável que a pessoa tem de engordar, com grave distorção da sua imagem corporal;
h) transtorno obsessivo compulsivo (TOC): conhecido como manias, estas são fundadas em obsessões que levam a comportamentos repetitivos;
i) transtorno do estresse pós-traumático (TEPT): observado em adolescentes que passaram ou presenciaram ataques violentos de bullying ou abuso sexual.
Desta forma, percebe-se que as consequências do fenômeno bullying são terríveis, afetando todos os envolvidos. Patologias como gastrite, úlcera, colite, bulimia, anorexia, herpes, rinites alérgicas, são muito comuns entre as vítimas de bullying.
No contexto escolar, as vitimas do bullying geralmente se sentem acuadas e amedrontadas. Por outro lado, as testemunhas, na maioria das vezes, preferem não interferir no que vêem, pois têm medo de serem vítimas das mesmas agressões. E, essa atitude contribui para que muitos casos de bullying permaneçam camuflados, gerando a cada dia, novos danos para suas vítimas.
Esclarecem ainda Lisboa; Braga e Ebert (2009, p. 65) que:

Jovens que protagonizam o bullying duran­te o Ensino Fundamental, mesmo que diminu­am esse comportamento durante o Ensino Mé­dio, são considerados por pesquisadores como hábeis socialmente e identificados por estar no centro (dominação) do grupo de pares. Os agressores, por intermédio do bullying, se mantêm em posição de líderes dentro do gru­po de pares.

No âmbito escolar, as vítimas são geralmente crianças que apresentam características físicas específicas (usar óculos, excesso de peso), maneirismos ou outras particularidades que as distinguem da maioria. As crianças portadoras de deficiência, de uma doença crônica ou cujos pais são demasiado protetores ou dominadores são frequentemente vítimas de agressão por parte dos seus colegas.
Em resumo, a vítima típica ou os alvos do bullying são personagens de difícil relacionamento, que sem motivo evidente, sofrem as condutas violentas de outros e que não possuem meios ou condições para reagir ou parar esses comportamentos maléficos. São ameaçadas, humilhadas, intimidadas e agredidas fisicamente.
Quanto aos agressores, são geralmente jovens com problemas emocionais ou com problemas de aprendizagem. Muitos deles sentem-se impotentes para lidar com os problemas do dia-a-dia e são vítimas de agressividade no seio da sua própria família.
Observam Ferreira e Tavares (2009), que fatores individuais parecem também influenciar a adoção de comportamentos agressivos. E, quente os fatores mais relevantes são: impulsividade, dificuldades de atenção, difíceis cognitivos e desempenho escolar deficiente.  
O local da escola onde o bullying é mais frequente é o recreio, sendo a sua fraca supervisão uma das razões principais para que tal aconteça. Face a isto, torna-se urgente repensar os recreios. Em primeiro lugar, é fundamental resolver o problema da falta de vigilância destes, pois as crianças, ao serem deixadas sós, muitas vezes têm conflitos em resultado da dificuldade em se organizarem.
Afirmam Lopes Neto e Saavedra (2003), que o bullying, dependendo do contexto escolar em que se instala, pode variar em intensidade, magnitude, permanência, gravidade e prejudicar o direito de todos. Escolas sem conhecimento sobre o fenômeno ou omissas, que admitem comportamentos preconceituosos e discriminatórios, são o alicerce para que essa forma de violência atinja todos os níveis de tirocínio.
O contexto escolar abriga o maior índice desses abusos, pois o preconceito precede as agressões. Palco do desenvolvimento humano desde a infância, a escola, entrelaça seu objetivo socioeducacional a atitudes antissociais ocultas desencadeadas pelo fenômeno (ABRAMOVAY; RUA, 2002).
Por outro lado, informam Lisboa; Braga e Ebert (2009), que além dos grupos de vítimas e de agressores e de agressores-vítimas, existem ainda os seguintes grupos:
a) testemunhas (quem apenas observa o bullying);
b) defensores (quem ajuda as ví­timas);
c) seguidores (reforçam o bullying, e estimulam o comportamento do agressor).
É importante destacar que o fato de testemunhar o bullying, constitui num grande fator de risco para o descontentamento com a escola, podendo até comprometer o desenvol­vimento acadêmico e social da testemunha.
Registra Fante (2005), que diferente do agressor, as testemunhas de bullying, muitas vezes, simpatizam com os colegas vitimizados, condenando seus agressores. Geralmente, estas testemunhas, têm medo de se tornarem alvos das agressões. E, por essa razão, não intervêm e esperam que alguém faça alguma coisa.
É preciso estar atento para as dife­rentes formas de manifestação de bullying. Pois, ele pode dificultar o desenvolvimento social e acadêmi­co, bem como os relacionamentos interpessoais positivos, na infância e adoles­cência, gerando prejuízos na aprendiza­gem e na autoestima de suas vítimas.
De acordo com Ferreira e Tavares (2009, p. 194):

[...] é necessário que se estabeleça ações a serem desenvolvidas objetivando as ações do agressor e as conseqüências na vítima. É importante, que os educadores e família, principalmente, estejam atentos a qualquer sinal de ação agressiva, pois não há métodos diagnósticos prontos para se determinar o bullyinista é necessário que esteja todos cautelosos às crianças mais propensas à agredirem ou à comportamentos anti-sociais, a fim de se verificar qualquer prática de bullying.

No âmbito da escola é necessário que todos os sujeitos envolvidos no processo educativo estejam atentos a toda e qualquer prática que possa se configurar com bullying. E, ao identificar essa prática, desenvolver os esforços necessários para coibi-la. A omissão ou desatenção quanto ao que está acontecendo pode trazer sérios danos não somente à vítima da agressão considerada, mas a outros alunos que com ela se relaciona.
Diante dessa realidade, registram Ferreira e Tavares (2009, p. 192) que:

[...] é imprescindível que os pais e professores estejam atentos às crianças em casa ou na escola, sejam elas vítimas do bullying ou autores do mesmo, a fim de que percebam o problema no princípio e atuem sobre ele imediatamente, para que expostos, as vítimas ou agressores não sofram conseqüências graves advindas do bullying, pois, tais comportamentos de risco podem comprometer não apenas os vitimados ou agressores, mas colegas não agressivos, professores e os responsáveis pelo apoio pedagógico da instituição, porque se tornam indivíduos em locais de risco constante. Isto porque não podemos pormenorizar o resultado de ações agressivas por parte dos autores, nem tampouco, qualquer alteração de comportamento por parte da vítima.

O bullying como forma de violência que se propaga no ambiente escolar deve ser combatido. A escola deve desenvolver ações eficientes visando coibir essa prática, que se configura como um fenômeno mundial. Para tanto, ela precisa envolver todos os seus membros, sejam eles coordenadores pedagógicos, supervisores, gestores, pedagogos, psicopedagogos, monitores, etc. 
Abordando essa necessidade urgente, Ferreira e Tavares (2009, p. 196) afirma que:

O bullying deve ser tratado com grande importância pela escola, família e sociedade por ser um fator de violência que demonstra desigualdade e injustiça social, além de pressões psicológicas ou físicas por parte do agressor, desacatando e degradando as diferenças, bem como, conseqüências físicas e emocionais de curto e longo prazo, as quais podem causar dificuldades acadêmicas, sociais, emocionais e legais.

Desta forma, é importante que para a superação dos problemas gerados com o bullying em seu contexto, a escola conte com a cooperação não somente de todo a comunidade escolar, mas também da família e da sociedade como um todo. Sem essas parcerias, superar tão grave problema é impossível. E, os esforços nesse sentido não devem ser limitados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O bullying é um problema que cada vez mais, vem crescendo no ambiente escolar, produzindo sérias conseqüências, podendo resultar em dificuldades de aprendizado por parte da vítima, ou numa situação mais grave, levá-la ao suicídio.
A vítima de bullying sofre calada, tem dificuldades de relacionamento, sente-se inferior diante dos outros, provoca fobia social, psicoses, depressão e principalmente baixo rendimento escolar.
Provavelmente, o fenômeno bullying sempre existiu. Atualmente, ele é identificado em vários países do mundo. O interessante é notar que independente do país onde esse fenômeno corra, tais manifesta­ções apresentam aspectos comuns e isto fez com que muitos pesquisadores sugerissem que esse fenômeno possui um caráter universal.
Independente da forma como o bullying se manifeste ele é sempre um comportamento ofensivo, aviltante, humilhante, que desmoraliza de maneira repetida, com ataques violentos, cruéis e maliciosos, sejam físicos sejam psicológicos.

REFERÊNCIAS

ABRAMOVAY, Miram; RUA, M. G. Violências nas escolas. 2. ed. Brasília: UNESC, 2002.

ABRAPIA - Associação Brasileira de Multiprofissionais de Proteção à Criança e ao Adolescente. Programa de redução do comportamento agressivo entre estudantes. Rio de Janeiro, 2003, Disponível em: http://www.bullying.com.br. Acesso: 01 abr. 2011.

CHALITA, G. Pedagogia da amizade - bullying: o sofrimento das vítimas e dos agressores. São Paulo: Gente, 2008.

ALMEIDA, Adriana Ricardo da Mota. A violência adormecida nas escolas (bullying) - o professor contribui ou pode despertá-la? (uma perspectiva interdisciplinar). Tempo & Memória, Revista do Programa interdisciplinar em Educação, Administração e Comunicação, v. 7, n. 10, p. 3-9, ago/dez 2008.

ARAÚJO, Ilze Arduini de; NUNES, Silma Carmo. Possibilidades de intervenção e combate ao fenômeno ‘bullying escolar’. Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 391-398, 2010.

CALHAU, Lélio Braga. Bullying: o que você precisa saber. 2 ed. Niterói: Impetus, 2010

FANTE, C. A. Z. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2. ed. Campinas-SP: Verus, 2005.

FERREIRA, Juliana Martins; TAVARES, Helenice Maria. Bullying no ambiente escolar. Revista da Católica, Uberlândia, v. 1, n. 2, p. 187-197, 2009.

GROSSI, Patrícia Krieger; SANTOS, Andréia Mendes dos. Desvendando o fenômeno bullying nas escolas públicas de Porto Alegre, RS, Brasil. Revista Portuguesa de Educação, v. 22, n. 2, p. 249-2, 2009.

LISBOA, Carolina; BRAGA, Luiza de Lima; EBERT, Guilherme. O fenômeno bullying ou vitimização entre pares na atualidade: definições, formas de manifestação e possibilidades de intervenção. Contextos Clínicos, v. 2, n. 1, p. 59-71, jan-jun./2009.

LOPES NETO, A.; SAAVEDRA, L. H. Diga não para o bullying: programa de redução do comportamento agressivo entre estudantes. Rio de Janeiro: Abrapia, 2003.

SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O CAMPO DO CURRÍCULO NO BRASIL

MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa. O Campo do Currículo no Brasil: os anos noventa. In: Currículo sem Fronteiras, v. 1, n. 1, pp.35-49, Jan/Jun 2001.

SÍNTESE

José Ozildo dos Santos
Rosélia Maria de Sousa Santos

1 INTRODUÇÃO

Em seu artigo ‘O Campo do Currículo no Brasil: os anos noventa’, Antônio Fábio Barbosa Moreira apresenta a teorização em currículo, o ensino de currículo na universidade e a prática na escola, partindo da análise do discurso de vários curriculistas, apontando no final, uma a necessidade de uma discussão e uma revisão dos conteúdos e dos métodos empregados no ensino de currículo, nas instituições de ensino superior, no Brasil.
No citado artigo, o autor procurou identificar as perspectivas que os curriculistas possuem sobre o currículo, visando entender como são abordados os estudos de currículos, nos distintos espaços acadêmicos.

2 DESENVOLVIMENTO

O campo do currículo no Brasil desfruta hoje de visibilidade e prestígio crescentes.  Essa situação é resultante das discussões sobre as políticas oficiais de currículo, bem como às produções teóricas, que abordam novos temas e refletem novas influências. Tais produções, proporcionam que estudantes e professores melhor entendam como transformações e disputas culturais no currículo são representadas e como as identidades sociais são produzidas.
A produção brasileira sobre currículo recebe forte influência da literatura estrangeira. Para alguns especialistas, é necessário uma postura crítica frente a essa influência. Outros acham que essa influência é valiosa e que ainda vem sendo utilizada como base de apoio. Contudo, existem aqueles que alertam contra o encantamento em relação a determinada tendência ou a determinado autor, afirmando que essa atitude os transforma em ‘verdade’ e dificulta a análise de sua aplicabilidade à nossa realidade.
No entanto, ainda segundo nossos curriculistas, vem ocorrendo no Brasil uma multirreferencialidade direcionada para construções mais autônomas. Entretanto, observam também esses especialistas, que o livre intercâmbio de idéias, vem permitindo uma crítica mais apurada, enriquecendo a análise dos problemas específicos.
Nota-se que se faz cada vez mais indispensável o desenvolvimento de diferentes propostas e projetos, que constituam uma unidade descentrada, na qual variadas vozes se articulem em torno da oposição ao conservadorismo e ao autoritarismo cada vez mais presentes em nosso panorama educacional, oferecendo respostas críticas às persistentes perguntas do professorado sobre o que fazer em sala de aula.
Dificilmente as teorizações ajudarão a renovar a prática. Por outro lado, é possível que o incremento na produção teórica do campo talvez não esteja ainda produzindo os frutos esperados. E, não se deve aceitar de forma ingênua o que se produz no Primeiro Mundo como soluções aos problemas do currículo no Brasil.
Uma postura cosmopolita, que inclua tanto a abertura para outras experiências culturais, além da sensibilidade para outras vozes e saberes, parece ser a melhor resposta aos problemas do ensino do currículo no Brasil. No entanto, nosso campo ainda oscila entre o aproveitamento crítico de teorias estrangeiras e o esforço por uma produção mais autóctone, da qual continuaríamos carentes.
Segundo nossos especialistas, o currículo deve ser concebido como artefato cultural, como um campo de produção/reprodução de cultura, em torno da definição de conhecimento, exigindo-se assim, que nos cursos de currículo, vincule-se o processo curricular a desenvolvimentos culturais mais amplos, abrindo espaço para a crítica de diferentes manifestações culturais.
A variedade de temas, de influências e de áreas do conhecimento, que parece configurar alguns de nossos cursos sobre currículo, favorece uma compreensão mais acurada da educação no mundo e na sociedade. No entanto, passivamente, contribui para uma maior indefinição dos contornos do campo do currículo, dificultando a análise e o enfrentamento de questões específicas que afetam nossas escolas.
Na opinião de alguns especialistas, é preciso reformar os cursos de formação de professores, para que os mesmos possam ir para a escola mais instrumentalizados para construir uma prática pedagógica mais adequada aos alunos. Hoje, sabe-se que o conhecimento se constrói em rede. É essa idéia que precisa subsidiar os currículos da formação de professores, tendo-se em mente que a prática é construída com conhecimentos apontados por seu próprio desenvolvimento.
Contudo, se, por um lado, a ampliação de referenciais pode enriquecer a discussão das questões de currículo, facilitando a compreensão das mesmas, por outro, a diversidade de temas, autores e abordagens, que hoje caracteriza o ensino de Currículo, não propicia, necessariamente, o estabelecimento de elos mais significativos com situações e problemas vivenciados na prática.
A questão curricular não se reduz a simples problema técnico a ser resolvido por meio de modelos racionais: corresponde a um processo contínuo e complicado de desenho do ambiente escolar, um ambiente simbólico, material e humano constantemente em reconstrução e sua complexidade precisa ser abordada por teorizações complexas. Ela pode ser debatida teoricamente, mas o problema do currículo somente pode ser resolvido praticamente.
Segundo os especialistas em currículo, no Brasil, tem-se avançado na produção do conhecimento teórico sem, contudo, produzir modificações substantivas na prática. A questão do currículo é complexa. Na prática projetam-se elementos teóricos, mas não se pode compreendê-la somente recorrendo a tais elementos.
O conhecimento incide na ação como atributo do sujeito, não como algo que se dê à sua revelia. Daí a importância de se buscar compreender o que se passa em educação a partir da dinâmica das ações dos indivíduos e das ações sociais, a partir dos saberes e dos motivos dos sujeitos envolvidos na prática.
Contudo, nossos curriculistas, ao expressarem um compreensível desencanto em relação aos efeitos das teorizações nas escolas e salas de aula, indicam a necessidade de se repensar a articulação teoria-prática no campo do currículo de modo a facilitar o desenvolvimento da capacidade prática e da experiência teórica do professorado.

CONCLUSÃO

Os curriculistas precisam definir os alvos preferidos de suas preocupações, delimitando melhor os temas prioritários das investigações a serem realizadas. Uma visão muito ampla de currículo não permite distinguir entre âmbitos de ação que por vezes requerem lógicas diferençadas de intervenção.
Deve-se estimular o incremento de investigações que priorizem as ações que se passam nas escolas, visando a compreendê-las mais profundamente, bem como o estímulo ao diálogo entre os pesquisadores da universidade e a escola. É preciso que os profissionais envolvidos no trabalho com currículo, reflitam profundamente sobre suas situações individuais específicas e não simplesmente se preocupem em mudar as escolas.
Em síntese, é inadiável a discussão e a revisão dos conteúdos e dos métodos empregados no ensino de Currículo em nossas instituições de ensino superior. Tal revisão permitirá uma melhor formação de futuros docentes.