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sábado, 8 de dezembro de 2012

GÊNEROS LITERÁRIOS


ARAGÃO, Maria Lúcia. Gêneros literários. In: SAMUEL, Roger (org.). Manual de teoria literária. Petrópolis: Vozes, 2001.

FICHAMENTO

Página 53
O que se entende por gêneros literários pode ser resumido, se levarmos em conta a própria etimologia do vocábulo "gênero", oriundo do latim genus,-eris, que significa tempo de nascimento, origem, classe, espécie, geração. Deste modo, toda obra literária se origina de uma determinada época e de uma determinada cultu­ra, isto é, é gerada num certo tempo e num certo espaço, filian­do-se a uma determinada classe ou espécie ou inaugurando um novo horizonte através de um conjunto próprio de regras.

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É de capital importância frisar que a obra literária, sendo um organismo formado de múltiplos aspectos, onde se articulam ele­mentos morfológicos, sintáticos, semânticos, imagísticos, simbó­licos, fônicos, rítmicos etc., articulados a outros aspectos particu­lares aos gêneros dos quais participa mais intimamente, não pode ser reduzida a um mero catálogo de regras apriorísticas.

Página 55
Que o estudo dos gêneros literários sirva de meio para se chegar à compreensão global da obra, mas não de princípio básico norteador de um conhecimento que se queira mais totalizante.

Página 55-56
Nos livros III e X da República, Platão se refere aos gêneros literários, estabelecendo então as três categorias: poesia épica, poe­sia dramática e poesia lírica. [...] A poesia dramática, por ele chamada de mimética, era a que imitava os ho­mens em ação. A poesia lírica, que não imitava os homens em ação, caracterizando-se mais por seu aspecto subjetivo, era não-mimética. A poesia épica era a que participava dos dois procedimentos anteriores, sendo, portanto, um tipo de poesia mista (utilizava tanto o diálogo direto quanto a narração).

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O conceito de gêneros literários encontrou em Aristóteles, fi­lósofo grego que viveu no IV século aC (384 aC a 322 aC), um vasto campo de reflexão. Sua doutrina permanece ainda atual, devido à grande sensibilidade e ao espírito científico com que marcou a sua Poética, obra dedicada principalmente ao estudo da tragédia e da epopéia. Realizando profundas investigações no campo da estética, da retórica e da poética, reconheceu a existên­cia de três gêneros fundamentais ou de três formas essenciais em que pode se apresentar o fenômeno poético: o gênero épico, o líri­co e o dramático.

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O Renascimento recuperou os preceitos já conhecidos das poéticas aristotélica e horaciana. Segundo os críticos da época, a poesia, para atingir o grau de universalidade, deveria ser realizada segundo modelos prefixados pelos tratados ou artes poéticas até então difundidos. O conceito de imitação aristotélico foi levado às últimas conseqüências, interpretado como cópia da realidade e não como recriação. No caso específico dos gêneros, concebe­ram-nos como cópias fiéis dos modelos greco-romanos.
[...] A lírica não encontrou no neoclassicismo um campo propício ao seu desenvolvimento porque, nesta época, a razão e o bom sen­so deveriam predominar sobre a emoção.

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O grande codificador das idéias relativas à arte poética, neste período, foi Boileau que, inspirado na filosofia racionalista então vigente, irá relacionar o bom senso e a razão aos aspectos nobres e elevados que deveriam nortear a poesia.
[...] A partir da segunda metade do século XIX, o positivismo e o naturalismo, juntamente com as teorias evolucionistas de Spencer e Darwin, irão influenciar toda a cultura européia. Destacamos o crítico Brunetière (1849-1906), que tentará reabilitar o conceito dos gêneros, comparando-os a organismos vivos, com nascimen­to, crescimento, morte ou transformação. Nesta concepção, os gê­neros, assim como os homens e a história, estavam sujeitos às leis da evolução natural da espécie.

Página 60
Os gêneros são instituições que exercem certa pressão sobre o escritor, assim como também são por ele modificados. Essas convenções estéticas, por assim dizer, servem para ordenar e classificar as obras, tomando-as mais aptas a serem apreendidas pelos leitores.

Página 61.
A palavra "lírica" deriva do grego lyrikós, que significa algo que concerne à lira, ou o som proveniente da lira, instrumento mu­sical primitivo, com quatro cordas.

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A lírica está associada à livre imaginação, onde a emoção supera o pensa­mento, daí o gênero ser essencialmente polimorfo. Destacamos, nesta época, duas inspirações claramente distintas: uma pessoal, onde o poeta faz expressamente de si mesmo, de seus sentimentos e de suas idéias a matéria de seus cantos, e outra geral, impessoal, na medida em que o poeta fala em nome de todos, dando uma voz comum à alma da multidão.
[...]. O estilo lírico com o decorrer dos tempos foi desenvolvendo novas formas, entre as quais destacamos a égloga latina, o idílio a balada, o soneto etc.

Página 63
A lírica moderna se caracteriza por uma grande liberdade formal e para entendermos em toda a sua profundidade o fenômeno lírico como um todo, é necessário que apreendamos a essência do estilo, as suas marcas e a pluralidade de suas manifestações.

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A poesia lírica renuncia à coerência gramatical, lógica e for­mal, pois necessita se libertar para poder ser mais autenticamente momentânea.

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O épico se caracteriza primordialmente por ser um estilo nar­rativo, através do qual o poeta narra, descreve e exalta fatos histó­ricos e personagens heróicos. É o estilo mais próprio para traduzir os sentimentos coletivos, a grandiosidade dos cenários, dos heróis, dos combates e dos sentimentos.

Página 66
O narrador épico se caracteriza fundamentalmente pelo seu afastamento em relação ao assunto narrado. Ele se coloca como um simples observador que não altera o seu ânimo diante do fato narrado.

Página 67
A chave para o entendimento do texto épico deve ser buscada, nas divagações, nas narrações detalhadas e prolixas. A diferença entre a epopéia e as outras fonl1as narrativas talvez esteja no prazer que o poeta épico quer despertar no ouvinte ou leitor pelo deta­lhe. Daí o fim da poesia ficar diluído em suas partes, através do recurso à antecipação.

Pág. 68
Drama significa, etimologicamente, ação. Consideramos, pois, obras dramáticas, aquelas em que a história (a fábula, o mito) ou os caracteres e as emoções são imitados não através do discurso de um narrador (como é o caso do épico); mas sim através de personagens em ação.

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O herói trágico, pois, é aquele que, acreditando em suas idéias e vivendo coerentemente a partir delas, sem duvidar de sua vali­dez, vê-se inesperadamente diante do inevitável destino, que lhe impõe as suas normas próprias e as suas vontades, incompatíveis com a sua visão de mundo e idealização.

Página 72
A tragédia configura o choque entre o caráter do herói e o seu destino. A ironia trágica seria exatamente a oscilação entre estas duas tábuas de valores, a impossibilidade de se poder optar por uma em particular.

Página 73
Como formas dramáticas cômicas, podemos destacar a farsa, um tipo de peça teatral surgida no século XIV, em geral curta, com poucas personagens, que pretende provocar o riso a partir de situa­ções cômicas e ridículas da vida quotidiana.

Página 74
Geralmente o conto é definido como sendo uma forma narrati­va em prosa, de pequena extensão. É claro que não podemos reco­nhecer um conto só a partir do número de páginas em que se en­quadra uma história. Por ser um tipo de narrativa voltada para ob­jetivos bem determinados, a sua forma acompanhará o conjunto dos elementos específicos a esse tipo de narrativa.

Página 75
O conto tradicional absorveu grande parte do folclore de todos os povos, notadamente o conto de fadas e a fábula, que podemos considerar como sendo um tipo de conto com objetivo nitidamente didático. A fonte mais rica de enredos de contos populares foi ofe­recida pelo Oriente.
[...]. O romance é a mais importante forma de gênero narrativo em prosa, surgida até agora.

Página 77
O romance pode ser definido como sendo o desenrolar de uma história, constituída por um complexo de acontecimentos ou de paixões desenrolados no tempo, confrontando personagens imaginárias, mas em que a aparência de vida é a tal ponto impe­riosa, que somos levados a refletir sobre os acontecimentos como se fossem reais [...].
O romance é formado de personagens, que podem ser homens ou coisas, fatos, desejos, animais, idéias etc. Na verdade o artista pode atribuir personificação a qualquer elemento concreto ou abs­trato dentro dos limites da narrativa. Esses personagens atuam dentro de uma medida temporal e espacial determinada.

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