O POSITIVISMO E SUA INFLUÊNCIA NO BRASIL
José Ozildo dos Santos
Rosélia Maria de Sousa Santos
1 INTRODUÇÃO
As idéias que serviram de base para o positivismo surgiram na França e na Inglaterra, durante o século XVIII. Esse movimento caracterizou-se pela aversão à religião e à metafísica, pelo empirismo e pela busca de simplicidade, clareza, representações exatas e precisas e uniformidade na metodologia de estudo de todas as ciências (SILVA, 1999).
No entanto, a consolidação do positivismo como modelo filosófico ocorreu na França, no século XIX, através da obra de Augusto Comte.
Naquele século, o Brasil vivia uma monarquia escravocrata e muitos de seus filhos freqüentavam escolas superiores na Europa, principalmente, na França e Portugal. Foram estes estudantes os principais responsáveis pela difusão das idéias positivistas no Brasil do século XIX, estimulando as campanhas abolicionistas e desencadeando o movimento que culminou com a proclamação da República.
O papel de Augusto Comte na consolidação do positivismo e a influência desse movimento no Brasil são assuntos sucintamente abordados no presente artigo.
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 O POSITIVISMO DE AUGUSTE COMTE
O termo ‘positivismo’ surgiu na história da filosofia ocidental no século XIX e foi cunhado por Auguste Comte para designar uma teoria do conhecimento antigo (GOMIDE, 1999)
Informa Silvino (2007), que o positivismo foi um movimento de pensamento que dominou parte da cultura européia, influenciando a filosofia, as artes, a literatura, bem como a educação.
De acordo com Borges (2003), o positivismo como filosofia surgiu ligado às transformações da sociedade européia ocidental, na implantação de sua industrialização.
Essa influência se prolongou até o final da segunda década do século XX. Nesse período, acrescenta ainda Silvino (2007), que predominava a ideia de que era possível que a ciência era elaborasse instrumentos para dominar todos os problemas da humanidade, até porque o modo de produção era fortemente influenciado por ela.
O positivismo enquanto corrente filosófica influenciou diferentes produções humanas. Por outro lado:
[...] foi do positivismo social de Comte que fluiu uma primeira vertente ideológica voltada para retificar o capitalismo mediante propostas de integração das classes a ser cumprida por uma vigilante administração pública dos conflitos. A sua inspiração profunda é ética e, tanto em Saint- Simon, quanto em Comte, evoluiu para um ideal de ordem distributivista (BOSI, 1992, p. 282).
Considerado a maior expressão do pensamento positivista, Comte buscou um novo ponto de vista sobre a ciência, a política e a religião, que abrisse o caminho para uma organização política e que estivesse à altura da capacidade industrial e científica das sociedades modernas.
Triviños (1987) informa que o positivismo, nas ciências sociais, iniciou propondo um método para analisar o comportamento social semelhante a uma ciência analítico-normativa, propondo uma separação entre conhecimento e interesse.
Acrescenta ainda Triviños (1987), que o positivismo tem como base teórica os três pontos seguintes:
a) todo conhecimento do mundo material decorre dos dados ‘positivos’ da experiência, e é somente a eles que o investigador deve ater-se;
a) existe um âmbito puramente formal, no qual se relacionam as idéias, que é o da lógica pura e da matemática;
b) todo conhecimento dito ‘transcendente’ - metafísica, teologia e especulação acrítica - que se situa além de qualquer possibilidade de verificação prática, deve ser descartado.
O Positivismo dominou uma parte significativa da cultura européia tanto no âmbito filosófico como político e pedagógico. Por sua vez, Comte afirmava ser necessário estabelecer uma relação fundamental entre a ciência e a técnica e esse pensamento pendurou por várias décadas.
Apesar que ter influencia por décadas o pensamento humano, o positivismo perdeu sua importância na pesquisa das ciências sociais, face as transformações registrada no contexto acadêmico (TRIVIÑOS, 1987).
O Positivismo iniciou-se na segunda metade do século XIX, configurando-se como sendo uma perspectiva filosófica baseada em conhecimentos do mundo físico e humano. Tal movimento tentava buscar uma explicação na filosofia ao método científico.
Informa Paixão (2000, p. 21) que:
A Filosofia positiva de Augusto Comte (1798-1857) desponta no contexto do século XIX, um século marcado pela sombra das influências da Revolução Industrial, da Revolução Francesa e da Independência dos EUA. Os ideais de liberdade ecoavam e atravessavam as fronteiras originárias, somadas a um esforço de implantação da lógica das ciências exatas e naturais, na busca do conhecimento através do formalismo, da experimentação, da mensuração e da crítica a qualquer representação metafísica.
Augusto Comte foi o pensador mais importante na história da filosofia positivista. Ele contribuiu para o avanço na compreensão das ciências e, especial das ciências políticas, sendo também considerado o pai da Sociologia.
Abordando o surgimento do positivismo, Góis Junior (2003, p. 22-23) afirma que:
Positivismo, de uma forma sucinta, é entendido como o método científico que afirma ser todo o axioma racional passível de explicação, justificado por uma lógica experimental e matemática. As leis da ciência regem o mundo, fugindo de explicações espiritualistas. Comte substituía a religião católica oficial, então tradicional, pela ‘Religião da Humanidade’.
Comte tentou unir a filosofia à ciência biológica e médica, bem como à religião. Como o positivismo, a fé cristã foi substituída pela fé na ciência, ao mesmo tempo que a Igreja católica foi substituída pela Igreja positivista.
Registra Reale (1999, p. 14-15), que Augusto Comte:
[...] era um homem de formação matemática, animado do propósito de dar à Filosofia uma certeza igual àquela que, a seu ver, seria própria das ciências físico-matemáticas. Para Comte, a Filosofia só é digna desse nome enquanto não se diversifica da própria Ciência, marcando uma visão orgânica da natureza e da sociedade, fundada nos resultados de um saber constituído objetivamente à luz dos fatos ou das suas relações. Tal posição e tendência de Augusto Comte, baseando o saber filosófico sobre o alicerce das ciências positivas, estavam destinadas a obter repercussão muito grande em sua época, notadamente por sua declarada aversão à Metafísica e a quaisquer formas de conhecimento a priori, isto é, não resultantes da experiência.
Augusto Comte buscava um novo estado da sociedade, como uma constituição mundial, consagrando a república dos sábios – os sacerdotes positivistas, que utilizariam o conhecimento científico e a sua divulgação generalizada como instrumento para se atingir a regeneração humana proposta. O positivismo, baseado no conhecimento científico como determinante da moral humana, buscava formar o indivíduo através da lei dos três estados, da classificação das ciências e da religião da humanidade.
Na concepção de Paixão (2000, p. 21):
Para uma compreensão da filosofia de Comte é preciso uma leitura sobre o êxito das ciências exatas e naturais, traduzido nas aplicações técnicas de um tempo em que a industrialização será determinante de todas as transformações sociais, uma vez que, o saber positivo, aquele que se constitui pela observação e pelas leis, segue o molde da física e da matemática, em busca de sínteses definitivas para a sociedade humana, leis invariáveis, que constituam um paradigma da ordem, única certeza da evolução do homem na direção do estado científico e de seu afastamento dos objetos tradicionais da metafísica, estes destituídos das características de positividade e avessos aos encaminhamentos da abordagem objetiva das ciências.
O pensamento de Comte tinha como espinha dorsal a lei dos três estados. Comte achava que a filosofia positiva deveria buscar aplicações políticas e fundar uma nova religião, afirmando que era possível planejar o desenvolvimento das sociedades e dos indivíduos a partir dos referenciais das ciências exatas e biológicas.
2.2 A INFLUÊNCIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
Durante a segunda metade do século XIX e início do XX, os intelectuais brasileiros foram fortemente influenciados pelo positivismo.
De acordo com Paixão (2000, p. 21):
O positivismo penetra no contexto histórico do Brasil da segunda metade do século XIX, marcado por ideais republicanos, pelo liberalismo político, pela luta para a abolição dos escravos, pelo ecletismo e pela ascensão de uma burguesia urbana, que vai ser decisiva na transição império-república.
No Brasil, o positivismo exerceu uma grande influência nos eventos que levaram à Proclamação da República. O lema da bandeira brasileira é um reflexo do positivismo.
Segundo Góis Júnior (2003), os ideais positivistas no Brasil passavam a representar o progresso da consciência humana em contraposição aos dogmas cristãos que predominavam em detrimento do saber racional.
Nas escolas militares, o positivismo encontrou um espaço apropriado para seu desenvolvimento. O pensamento positivista influenciou políticos e filósofos, permitindo a organização do movimento republicano pelo fim da monarquia.
Informa ainda de acordo com Paixão (2000, p. 22):
O positivismo no Brasil não é uma mera reprodução da filosofia de Comte, como esta se desenvolveu no cenário francês de sua origem, e sim, uma versão temperada pelo ecletismo que marcava os pensamentos dos intelectuais da segunda metade do século XIX, formadores de opinião dentro dos partidos políticos e das famílias de prestígios da época.
A influência do positivismo no Brasil, ocorrida no período pré-republicano, deu-se na imprensa, no parlamento, nas escolas, na literatura e na academia, produzindo um clima de grande entusiasmo pelo seu conteúdo de modernização das idéias.
3 CONCLUSÃO
O positivismo representou o sentimento da necessidade da ordem, como pulsação principal para o progresso do homem e da sociedade.
No caso do Brasil, a influência do positivismo se espalhou na organização da sociedade republicana, ainda no século XIX, estimulando o culto ao cientificismo, desafiando a dominação católica ao mesmo tempo que pregava a necessidade de uma Igreja da Humanidade, que primava pela religião positiva, pelo o culto à ciência.
É importante ainda destacar que a Reforma Constant de 1890, baseada nos fatos e na demonstração científica, foi uma das principais conseqüências do positivismo no Brasil.
4 REFERÊNCIAS
GÓIS JUNIOR, Edivaldo. Higienismo e positivismo no Brasil: unidos e separados nas campanhas sanitárias (1900-1930). Dialogia, v. 2, p. 21-32, out-2003.
PAIXÃO, C. J. O positivismo ilustrado no Brasil. Trilhas, Belém, v. 1, n. 2, p.21-27, nov. 2000.
______. A moral positivista e o pensamento educacional no Brasil do século XIX. XV Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste, 2001.
REALE, M. Filosofia do direito. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
SILVA, C. M. S. A matemática positivista e sua difusão no Brasil. Vitória: EDUFES, 1999.
Nenhum comentário:
Postar um comentário