BRIQUETES:
FORMA ALTERNATIVA DE APROVEITAMENTO DA BIOMASSA RESIDUAL
José Ozildo dos Santos
Professor, mestrando
em Sistemas Agroindustriais - UFCG
A busca por novas fontes
enérgicas se intensificou a partir da década de 1970, que também coincide com a
eclosão dos movimentos ambientalistas, que levaram a Organização das Nações
Unidas (ONU) a realizar a primeira Conferência Internacional Sobre o Meio
Ambiente, sediada em Estocolmo, Suécia.
Foi durante a Conferência
de Estocolmo que se enfatizou o conceito de desenvolvimento sustentável,
mostrando-se a necessidade de se desenvolver também novas formas de energia,
que levassem em consideração os princípios estabelecidos para a esse tipo de
desenvolvimento.
Com o passar do tempo, as
necessidades em relação ao desenvolvimento de formas alternativas de energia
foram aumentado. E diante da escassez de combustíveis fósseis, as chamadas
energias renováveis, vegetais e limpas, foram ganhando importância, fazendo com
que a sociedade passasse a privilegiar mais o consumo sustentável. Essa
preocupação em relação ao desenvolvimento e a utilização de formas alternativas
de energia se intensificaram a partir da década de 1970.
Dentre as várias formas
alternativas de energia, destacam-se os briquetes, que foram desenvolvidos nos
Estados Unidos, pela indústria naval, em 1848. No entanto, na época, tal
inovação não alcançou visibilidade, principalmente, devido à grande disponibilidade
de lenha e de petróleo.
É importante também
ressaltar que naquela época, ou seja, no final da primeira década do século
XIX, não havia uma preocupação ambiental. Posteriormente, o elevado preço
cobrado pelos combustíveis fósseis e o surgimento dos problemas ambientais, fizeram
com que as chamadas matrizes energético-ambientais passassem a desfrutar de certa
importância. E, dentre essas matrizes, ganhou destaque o briquete, por vários
fatores, dentre os quais, a comodidade com o manuseio e a facilidade de
transporte.
Na produção dos
briquetes, os resíduos da biomassa são triturados e num segundo momento,
compactados, sob alta pressão, resultando em blocos que possuem melhor
potencial de geração de calor (energia) quando comparados aos resíduos in natura. Nesse processo de produção, tudo que é
considerado biomassa residual pode ser aproveitado.
Nesse processo de
produção, podem ser utilizado serragem e restos de serraria, casca de arroz,
sabugo e palha de milho, palha e bagaço de cana-de-açúcar, casca de algodão,
casca de café, soqueira de algodão, feno ou excesso de biomassa de gramíneas
forrageiras, cascas de frutas, cascas e caroços de palmáceas, folhas e troncos
das podas de árvores nas cidades, dentre outros.
Assim, na produção de
briquetes, nada que é biomassa residual se perde: tudo é aproveitado. Tais
resíduos são compactados gerando pequenos e médios cilindros com diâmetro
superior a 50 mm, que possuem alto poder calorífero e que em diversos segmentos
da indústria e do comércio, já vem sendo utilizados em substituição à lenha e
ao carvão, contribuindo, assim, para a redução dos impactos ambientais.
No caso específico do
Brasil, a produção de briquetes teve início em 1985, tendo sido o estado do Rio
Grande do Sul o responsável pela venda dos primeiros briquetes no país. No
início do processo de produção e comercialização desse biocombustível no
Brasil, surgiram vários obstáculos, dentre os quais merecem destaques a
ausência de promoção, a concorrência com a lenha e o carvão vegetal, a
desuniformidade do produto, a necessidade de capital de giro, o alto preço do
frete da matéria-prima e os impostos elevados.
Os desafios enfrentados
pelos setores produtores de briquetes no Brasil foram resultantes,
principalmente, pela falta de incentivo por parte do governo federal, que se
traduz na falta de custeio e na inexistência de uma política tributária
especifica. Além de enfrentarem a falta incentivos, que deveriam ser fornecidos
pelo governo, os primeiros produtores de briquetes no país tinham dificuldades
em venderem seus produtos, porque os mesmos possuíam preço elevados, reflexos
da alta tributação e enfrentavam a forte concorrência que vinha daqueles que
comercializavam lenha e carvão vegetal.
Entretanto, com o tempo e
com a adoção de práticas sustentáveis e do aumento pela busca por novas fontes
alternativas de energia, o mercado se abriu para os briquetes no Brasil, o que
levou ao desenvolvimento de inúmeras pesquisas sobre tal alternativa
sustentável. Atualmente, produz-se briquetes a partir de bagaço de cana, casca
de arroz, lenha comercial, resíduos de algodão, resíduos de eucalipto, resíduos
de pinus e resíduos madeira de lei. A utilização de outros compostos está sendo
estudada, objetivando a produção de briquetes, principalmente, utilizando-se a biomassa
residual existente na região norte do país.
Atualmente, os briquetes
possuem larga utilização não somente em unidades residenciais como também em
estabelecimentos comerciais e na própria indústria, substituindo o gás natural
e a lenha, produzindo calor e energia.
É importante registrar
que as atividades agrícolas, florestais e industriais no Brasil geram uma
grande quantidade de biomassa residual. Lamentavelmente, esse potencial ainda
não vem sendo utilizado da maneira correta. Grande parte dessa biomassa
residual é desperdiçada e com ela a energia que poderia ser produzida, deixando
de auxiliar no processo de preservação do meio ambiente ou mesmo de contribuir
para estruturação de um modelo energético, que leva em consideração os
princípios aplicáveis à sustentabilidade ambiental.
Embora seja responsável
pela produção de uma grande quantidade de biomassa residual, o Brasil somente
utiliza uma pequena parcela desse material na produção de briquetes. Pouco mais
de um milhão de toneladas de briquetes são produzidas por ano no país, utilizando-se,
principalmente, resíduos agrícolas. Os resíduos de alimentos, provenientes da fabricação
de alguns produtos, bem com pelo beneficiamento dos próprios alimentos, ainda
não são utilizados também em grande escala na produção de briquetes, no Brasil.
Pode-se perceber que a
falta de incentivos e de ações governamentais voltadas para a valorização da
produção de briquetes no país, tem contribuído para que uma imensa quantidade
de biomassa residual seja desperdiçada anual. A necessidade de se buscar formas
alternativas de energia é uma realidade patente. Por outro lado, a sociedade
precisa ser informada sobre o processo de desenvolvimento dessas novas
alternativas e convocada para dar a sua contribuição, na esperança de que no
futuro se tenha um mundo com melhores condições de vida, proporcionadas,
principalmente, pela exploração racional e consciente dos recursos naturais,
numa ótica sustentável.
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