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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014


BRIQUETES: FORMA ALTERNATIVA DE APROVEITAMENTO DA BIOMASSA RESIDUAL
 

José Ozildo dos Santos
Professor, mestrando
em Sistemas Agroindustriais - UFCG
 

A busca por novas fontes enérgicas se intensificou a partir da década de 1970, que também coincide com a eclosão dos movimentos ambientalistas, que levaram a Organização das Nações Unidas (ONU) a realizar a primeira Conferência Internacional Sobre o Meio Ambiente, sediada em Estocolmo, Suécia.
Foi durante a Conferência de Estocolmo que se enfatizou o conceito de desenvolvimento sustentável, mostrando-se a necessidade de se desenvolver também novas formas de energia, que levassem em consideração os princípios estabelecidos para a esse tipo de desenvolvimento.
Com o passar do tempo, as necessidades em relação ao desenvolvimento de formas alternativas de energia foram aumentado. E diante da escassez de combustíveis fósseis, as chamadas energias renováveis, vegetais e limpas, foram ganhando importância, fazendo com que a sociedade passasse a privilegiar mais o consumo sustentável. Essa preocupação em relação ao desenvolvimento e a utilização de formas alternativas de energia se intensificaram a partir da década de 1970.
Dentre as várias formas alternativas de energia, destacam-se os briquetes, que foram desenvolvidos nos Estados Unidos, pela indústria naval, em 1848. No entanto, na época, tal inovação não alcançou visibilidade, principalmente, devido à grande disponibilidade de lenha e de petróleo.
É importante também ressaltar que naquela época, ou seja, no final da primeira década do século XIX, não havia uma preocupação ambiental. Posteriormente, o elevado preço cobrado pelos combustíveis fósseis e o surgimento dos problemas ambientais, fizeram com que as chamadas matrizes energético-ambientais passassem a desfrutar de certa importância. E, dentre essas matrizes, ganhou destaque o briquete, por vários fatores, dentre os quais, a comodidade com o manuseio e a facilidade de transporte. 
Na produção dos briquetes, os resíduos da biomassa são triturados e num segundo momento, compactados, sob alta pressão, resultando em blocos que possuem melhor potencial de geração de calor (energia) quando comparados aos resíduos in natura.  Nesse processo de produção, tudo que é considerado biomassa residual pode ser aproveitado.
Nesse processo de produção, podem ser utilizado serragem e restos de serraria, casca de arroz, sabugo e palha de milho, palha e bagaço de cana-de-açúcar, casca de algodão, casca de café, soqueira de algodão, feno ou excesso de biomassa de gramíneas forrageiras, cascas de frutas, cascas e caroços de palmáceas, folhas e troncos das podas de árvores nas cidades, dentre outros.
Assim, na produção de briquetes, nada que é biomassa residual se perde: tudo é aproveitado. Tais resíduos são compactados gerando pequenos e médios cilindros com diâmetro superior a 50 mm, que possuem alto poder calorífero e que em diversos segmentos da indústria e do comércio, já vem sendo utilizados em substituição à lenha e ao carvão, contribuindo, assim, para a redução dos impactos ambientais.
No caso específico do Brasil, a produção de briquetes teve início em 1985, tendo sido o estado do Rio Grande do Sul o responsável pela venda dos primeiros briquetes no país. No início do processo de produção e comercialização desse biocombustível no Brasil, surgiram vários obstáculos, dentre os quais merecem destaques a ausência de promoção, a concorrência com a lenha e o carvão vegetal, a desuniformidade do produto, a necessidade de capital de giro, o alto preço do frete da matéria-prima e os impostos elevados.
Os desafios enfrentados pelos setores produtores de briquetes no Brasil foram resultantes, principalmente, pela falta de incentivo por parte do governo federal, que se traduz na falta de custeio e na inexistência de uma política tributária especifica. Além de enfrentarem a falta incentivos, que deveriam ser fornecidos pelo governo, os primeiros produtores de briquetes no país tinham dificuldades em venderem seus produtos, porque os mesmos possuíam preço elevados, reflexos da alta tributação e enfrentavam a forte concorrência que vinha daqueles que comercializavam lenha e carvão vegetal. 
Entretanto, com o tempo e com a adoção de práticas sustentáveis e do aumento pela busca por novas fontes alternativas de energia, o mercado se abriu para os briquetes no Brasil, o que levou ao desenvolvimento de inúmeras pesquisas sobre tal alternativa sustentável. Atualmente, produz-se briquetes a partir de bagaço de cana, casca de arroz, lenha comercial, resíduos de algodão, resíduos de eucalipto, resíduos de pinus e resíduos madeira de lei. A utilização de outros compostos está sendo estudada, objetivando a produção de briquetes, principalmente, utilizando-se a biomassa residual existente na região norte do país.
Atualmente, os briquetes possuem larga utilização não somente em unidades residenciais como também em estabelecimentos comerciais e na própria indústria, substituindo o gás natural e a lenha, produzindo calor e energia.
É importante registrar que as atividades agrícolas, florestais e industriais no Brasil geram uma grande quantidade de biomassa residual. Lamentavelmente, esse potencial ainda não vem sendo utilizado da maneira correta. Grande parte dessa biomassa residual é desperdiçada e com ela a energia que poderia ser produzida, deixando de auxiliar no processo de preservação do meio ambiente ou mesmo de contribuir para estruturação de um modelo energético, que leva em consideração os princípios aplicáveis à sustentabilidade ambiental.
Embora seja responsável pela produção de uma grande quantidade de biomassa residual, o Brasil somente utiliza uma pequena parcela desse material na produção de briquetes. Pouco mais de um milhão de toneladas de briquetes são produzidas por ano no país, utilizando-se, principalmente, resíduos agrícolas. Os resíduos de alimentos, provenientes da fabricação de alguns produtos, bem com pelo beneficiamento dos próprios alimentos, ainda não são utilizados também em grande escala na produção de briquetes, no Brasil.
Pode-se perceber que a falta de incentivos e de ações governamentais voltadas para a valorização da produção de briquetes no país, tem contribuído para que uma imensa quantidade de biomassa residual seja desperdiçada anual. A necessidade de se buscar formas alternativas de energia é uma realidade patente. Por outro lado, a sociedade precisa ser informada sobre o processo de desenvolvimento dessas novas alternativas e convocada para dar a sua contribuição, na esperança de que no futuro se tenha um mundo com melhores condições de vida, proporcionadas, principalmente, pela exploração racional e consciente dos recursos naturais, numa ótica sustentável.

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