TRIGGER, Bruce G. História do pensamento arqueológico. São Paulo: Odysseus, 2004.
FICHAMENTO
CAPÍTULO 7 – FUNCIONALISMO NA ARQUEOLOGIA OCIDENTAL
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A arqueologia social britânica fundamentava-se na obra do sociólogo francês Émile Durkhein (1858-1917). Como Karl Marx, Durkhein considerava as sociedades sistemas constituídos de partes interdependentes. [...] Durkhein defendia a sociologia como um meio prático de reagir ao que via como a desintegração social de uma sociedade capitalista.
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Durkhein sustentava que o objetivo dos estudos de ciências sociais é compreender as relações sócias, e afirmava que a origem de todos os processos sociais deve ser buscada na constituição interna dos grupos humanos.
Durkhein também afirmava que não poderia ocorrer uma mudança em uma parte do sistema social sem acarretar, em graus variáveis, mudanças em outras partes do mesmo sistema [...]. Segundo ele afirmara, à medida em que as sociedades foram se tornando mais complexas, elas deixaram de ter sua coesão social garantida pela solidariedade mecânica, ou seja, por obra de crenças compartilhadas, e passaram, cada vez mais, a fundar sua unidade interna na solidariedade orgânica, resultante da interdependência econômica.
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[...] com suas idéias conservadoras a respeito do comportamento humano, a antropologia social ofereceu aos arqueólogos uma alternativa respeitável do marxismo, num momento em que eles estavam, basicamente, mais interessados em entender como funcionam as sociedades do que em saber como se dá a mudanças.
No início da década de 1840, Worsaae afirmou que os achados arqueológicos devem ser estudados em relação com seus contextos paleo-ambientais; para fazê-lo, trabalhou em colaboração com biólogos e geólogos. Assim teve início uma tradição que continuou até os dias de hoje na arqueologia escandinava.
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Em 1898, o geólogo Robert Gradmann assinalou a correlação próxima existente entre solos de loesse depositados pelo vento e antigas povoações neolíticas na Europa Central e concluiu que, como os agricultores arcaicos eram incapazes de abri clareiras na floresta, os primeiros povoamentos agrícolas estabeleceram-se em áreas em que não havia árvores, ou que eram pouco arborizadas.
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A importância do reconhecimento aéreo para a pesquisa arqueológica fora reconhecida pela primeira vez durante operações militares no curso da Primeira Guerra Mundial.
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Já em 1915, Elliot Smith defendia a idéia de que a invenção da agricultura que ele acreditava ter acontecido em conseqüência de circunstancias fortuitas no Egito, fora o primeiro critério do neolítico e marcara uma das viragens decisivas da história humana.
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Embora sem suscitar análise de cultura como um todo, o interesse crescente pela relação existente entre a sociedade humana e seu contexto ambienta fomentou uma abordagem funcional de um aspecto básico do comportamento humano. Isto estimulou análises de paleoambientes e da adaptação ecológica das culturas a esses ambientes.
Ao desviar-se da abordagem histórico-cultural, que passou a ver como um beco sem saída intelectual, Childe não negou a importância da difusão como uma força capaz de promover a mudança cultural.
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A importância por ele [Childe] atribuída à consideração das culturas pré-histórica em termos de padrões de relações sociais reflete um conhecimento da sociologia de Durkhein, conhecimentos que ele adquiriu, basicamente, ao traduzir para o inglês o livro de Alexandre Moret e Georges Davy From Tibe to Empire [De tribo a império].
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O interesse de Childe pelo desenvolvimento econômico em tempos pré-histórico inspirou-se em tendências correntes na arqueologia européia, e mais particularmente na arqueologia britânica do período. Todavia, ele superou as interpretações de Elliot Smith, Peake e Fleure, na consistência com que aplicou o enfoque econômico ao estudo da pré-história, e no tocante ao alcance de suas formulações.
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De acordo com os princípios do materialismo dialético, ele [Childe] ponderou que toda sociedade encerra em seu seio tendências progressistas e tendências conservadoras. As contradições entre essas tendências produzem a energia que deflagra a mudança social irreversível.
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Childe afirmou que, em qualquer nível de desenvolvimento social, mas especialmente nas civilizações antigas, hierarquias políticas arraigadas e sistemas de crenças religiosas inflexíveis podem retardar, ou deter, a mudança econômica e social.
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Childe afirmou ainda que o significado de qualquer generalização só pode ser estabelecido em relação com contextos históricos específicos, porquanto as regras que explicam o comportamento humano, tal como próprio comportamento humano, variam com o desenvolvimento de novas formas de sociedade.
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Childe estendeu gradualmente sua análise marxista da sociedade de modo a compreender aspectos cognitivos do comportamento. Definiu o conhecimento como aproximações compartilhadas do mundo real que permitem aos seres humanos agir sobre este, e insistiu em que os arqueólogos devem tratar os artefatos como expressões concretas de pensamentos e idéias humanas.
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[...] Childe também acreditava que a evolução e o funcionamento da tecnologia só podem ser compreendidos se o arqueólogo for capaz de reconstruir o contexto social em que ela foi posta em prática.
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Grahame (J. G. D.) Clark inaugurou um enfoque funcionalista alternativo e, em muitos sentidos, complementar. Por conta de sua atuação na formação de muitos estudantes de graduação na Universidade de Cambridge, sua teoria exerceu considerável influência no desenvolvimento da arqueologia em muitas partes do mundo.
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Ele [Clark] afirmava que a arqueologia deveria ser “o estudo de como [os seres humanos] viveram no passado” e que, para alcançar esse objetivo, os achados arqueológicos devem ser examinados de um ponto de vista funcionalista [...]. O objetivo dos arqueólogos deve ser determinar como os seres humanos viveram nos tempos pré-históricos, reconstruindo, tanto quanto possível, sua economia, suas organização política e social, seus sistemas de crenças e valores, e tentando entender como os diferentes aspectos da cultura se inter-relacionam, uma vez que são partes de sistemas funcionais.
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Embora a concepção geral da cultura de Clark fosse formulada em termos ecológicos, antes que com base na prioridade do modo de produção, suas conclusões sobre a potencialidade do registro arqueológico para a reconstrução de diferentes aspectos das culturas assemelhavam-se muito às de Childe.
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[...] Clark considerava o arqueólogo que estuda uma habitação pré-história equivalente ao etnólogo que estuda uma comunidade viva. Muito pouca atenção se deu à pertinência dessa analogia, ou ao pressuposto dos antropólogos de que uma única comunidade vem a ser representativa de uma unidade cultural maior - esta última uma conclusão hoje rejeitada por todos.
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Clark desenvolveu técnicas de emprego dos testemunhos arqueológicos para documentar a vida social e, particularmente os modos como recursos naturais forma utilizados [...]. Em um ensaio intitulado “As abelhas na Antiguidade”, ele traçou uma perspectiva ecológica que relacionava o aumento de abelhas selvagens na Europa à introdução da agricultura e mostrava como o aumento conseqüente do suprimento de cera de abelhas facilitou a fundição de bronze.
Pág. 260
Clark considerava a mudança cultural como uma resposta a uma ‘desequilíbrio temporário’ provocado por mudanças ambientais, flutuações demográficas, inovações capazes de poupar trabalho e contato cultural.
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Clark provocou grande avanços na arqueologia britânica. A avaliação em laboratório de resíduos biológicos, como ossos de animais e sementes de plantas, recuperados em sítios arqueológicos, e a interpretação desses vestígios em termos ecológicos e econômicos constituíram uma importante especialização interdisciplinar, que inclui áreas como zooarqueologia, paleoetnobotânica e bioarqueologia.
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Nos Estados Unidos, o enfoque funcionalista na analise arqueológica teve início no século XIX. A princípio, manifestou-se sob a forma de um interesse pelo modo como os artefatos eram manufaturados, e pelo uso que lhe fora dado. Essa abordagem foi desenvolvida e sistematizada no livro de Harlan Smith (1872-1940), intitulado The Prehistoric Ethnology of a Kentucky Site (A etnologia pré-histórica de um sito do Kentucky), baseado na análise de artefatos que ele recuperara no sitio de Fox Farm, em 1895.
Pág. 265
Esse desejo de compreender os vestígios arqueológicos a partir de um ponto de vista funcional levou os arqueólogos a reatar com os etnólogos laços que se haviam enfraquecido durante o período no qual seu interesse maior fora construir cronológicas culturais.
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Taylor observou que o objetivo da maioria dos arqueólogos norte-americanos era a reconstrução da pré-história, e alguns deles, como Kidder, iam além, exprimindo a esperança de que, finalmente, os dados arqueológicos fornecessem uma base para generalizações acerca do comportamento humano e da mudança cultural.
Pág. 267
Taylor demonstrou também que a estreiteza dos objetivos dos arqueólogos levava ao relaxamento no trabalho de campo e na analise arqueológica [...]. Os arqueólogos também deixavam de registrar e, mais freqüentemente, de reportar, com o necessário detalhamento, a proveniência intra-sítio dos artefatos [...]. Taylor dedicou grande parte de seu estudo a crítica detalhada das deficiências da obra de arqueólogos norte-americanos proeminentes, a fim de mostrar como seus objetivos cronológico-culturais tinham limitado suas investigações do registro arqueológico.
Pág. 268
Taylor afirma que os arqueólogos têm a obrigação de recuperar o máximo possível de informações nos sítios arqueológicos, inclusive testemunhos em aparências triviais.
Pág. 267
[...] sítio ocupados sazonalmente por caçadores-coletores podem ser interligados de modo a formar padrões cíclicos anuais, e aldeias camponesas podem associar-se a centros aristocráticos de modo a proporcionar informação a respeito de estruturas hierárquicas de civilizações antigas.
[...] Tayor não seguiu Clark, nem antecipou a Nova Arqueologia, no considerar as culturas como sistemas ecologicamente adaptativos. Preferiu adotar uma visão idealista das culturas como um conjunto de conceitos compartilhados, noção que muito se assemelha à posição boasiana tradicional.
Pág. 270
O conceito de Taylor de integração de culturas também era mais fraco do que o adotado por Clark. Aproxima-se mais da noção de configuração, ou consistência psicológica, sustentada por antropólogos boasianos como Ruth Benedict (1934), do que das idéias de integração estrutural e funcional defendidas por antropólogos sociais.
Julian Steward (1902-72), que foi um dos primeiros etnólogos norte-americanos a adotar uma concepção explicitamente materialista do comportamento humano, fez aumentar em muito a consciência do papel desempenhado por fatores ecológicos na conformação de sistemas sócio-culturais pré-históricos.
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Steward também inspirou o surgimento da arqueologia dos assentamentos, inaugurada pela obra de Gordon Willey intitulada Prehistoric Settlemente Pattern in the Virú Valley (Padrões de assentamento no Vale de Viru, no Peru], um estudo arqueológico e antropológico realizado por antropológico americanos e peruanos em um pequeno vale costeiro do Peru, em 1946.
Pág. 274
No contexto da arqueologia dos assentamentos, sítios individuais deixaram de ser estudados como fins em si mesmos e de ser considerados representativos de uma cultura, ou de uma região em particular.
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Quase desde o começo, os arqueólogos perceberam o valor dos padrões de assentamento para o estudo da mudança social, tanto no nível tribal quanto no tocante à origem e desenvolvimento das civilizações [...].
A interpretação funcionalista de dados arqueológicos por muito tempo foi parte integrante dos estudos a respeito das relações entre culturas e seus ambientes, e de como os artefatos foram feitos e usados. Contudo, a proliferação e a crescente sofisticação dessas idéias, que representavam uma importante corrente da arqueologia britânica e norte-americana, estimulou os arqueólogos a encarar as culturas pré-históricas como modos de vida internamente diferenciados e com certo grau de integração.
CAPÍTULO 8 – NEO-EVOLUCIONISMO E NOVA ARQUEOLOGIA
Pág. 281
O neo-evolucionismo que se desenvolveu nos Estados Unidos na década de 1960 representou mais uma tentativa de antropólogos de um país politicamente dominante de ‘naturalizar’ sua posição, demonstrando que isso era o resultado inevitável de um processo evolutivo, que facultara aos seres humanos um controle maior sobre o ambiente e mais liberdade perante a natureza.
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Os dois princípios expoentes do neo-evolucionismo na década de 1950 foram os etnólogos Leslie White (1900-75) e Julian Steward (1902-72). White considerava-se o herdeiro intelectual de L. H. Morgan e da tradição evolucionista nativa da América do Norte. Rejeitou o particularismo histórico, o reducionismo psicológico e a crença no livre no livre arbítrio inerentes à antropologia boasiana.
Pag. 283
Steward defendeu uma abordagem alternativa no estudo da evolução cultural: um enfoque multilinear, ecológico e mais empírico. Afirmava que há regularidades significativas no desenvolvimento cultural e que a adaptação ecológica é fundamental para a determinação dos limites de variação nos sistemas culturais.
Pág. 284
O que distingue os vários enfoques materialistas da antropologia norte-americana da década de 1960 dos esquemas evolucionistas do século XIX é a concepção de causalidade. White adotou uma forma muito estreita de determinismo tecnológico que refletia a fé na tecnologia como fonte de progresso social, ao passo que Steward abraçou um determinismo ecológico menos estrito e Harris assumiu um determinismo econômico ainda mais amplo.
Pág. 285
Uma das primeiras aplicações da teoria neo-evolucionista à arqueologia foi feita por B. J. Meggers em ‘The Law of cultural evolution as a parctical research tool’ [A lei da evolução cultural como um instrumento prático de pesquisa]. Ela afirmava que, dada a ausência de fontes não humanas de energia em sociedades de pequena escala, a lei de White, aplicada a estas sociedades, deveria ser reescrita da seguinte forma: Cultura = Ambiente x Tecnologia.
Pág. 286
Em 1959, Joseph Caldwell publicou, na revista Science, um artigo intitulado “A Nova Arqueologia norte-americana”, no qual resenhava as principais tendências que, a seu ver, estavam transformando a arqueologia [...]. Ele adotou a tese neo-evolucionista de que nem todos os fatos culturais têm a mesma importância no tocante à promoção de mudança. O objetivo básico dos arqueólogos deve ser explicar as mudanças das culturas arqueológicas em termos de processo cultural.
Pág. 287
Binford [...] identificava o objetivo da arqueologia como sendo o mesmo tradicionalmente consignado à antropologia: explicar o amplo espectro de semelhanças e diferenças no comportamento cultural. Também afirmou que os dados arqueológicos são particularmente úteis para o estudo de mudanças ocorridas na longa duração.
Pág. 289
Binford postulava que as culturas não são internamente homogêneas. Todas vêm a diferenciar-se, pelo menos no que corresponde a papéis relacionadas com idade e sexo, e o grau em que são internamente compartilhadas pelos indivíduos varia na razão inversa de sua complexidade.
Pág. 290
Binford foi além de Clark e de Taylon ao argumentar que, como os artefatos têm contextos básicos em todos os subsistemas da cultura, conjuntos formais de artefatos podem oferecer um retrato sistemático e compreensível de culturas totalmente extintas. Ele afirmar que o dever básico do arqueólogo é explicar as relações existentes no registro arqueológico.
Pág. 292
Algumas das mais importantes entre as primeiras aplicações da Nova Arqueologia foram as tentativas de usar a cerâmica para inferir padrões de residência de comunidades pré-históricas [...].
Entre as principais contribuições originais de Binford, nessa altura, estava sua insistência em que as correlações usadas para inferir comportamento humano de dados arqueológicos têm de basear-se na demonstração de uma articulação constante de variáveis especificas em um sistema.
Pág. 294
Binford também negou a importância dos fatores psicológicos para a compreensão da pré-história. Identificou o uso de tais conceitos com o idealismo boasiano e com o enfoque histórico-cultural, e afirmou que eles não têm valor explicativo para uma interpretação ecológica da cultura e da mudança cultural.
Os adeptos da Nova Arqueologia continuaram a condenar as explicações da mudança que invocam fatores psicológicos, conscientes ou inconscientes. As idéias de Binford rapidamente atraíram um grande número de seguidores entre os arqueólogos norte-americanos, especialmente entre os mais jovens.
Pág. 296
A datação por radiocarbano teve um efeito similar no estudo da pré-história norte-americana. Aí, com exceção da faixa sudoeste, onde as datas de calendário atribuídas a sítios anteriores ao começo da era cristã tinham sido deduzidas a partir de dendrocronologias desde a década de 1920, as cronologias estabelecidas por radiocarbono revelaram que as seqüências culturais se tinham desenvolvido durante períodos maiores e a um timo mais lento do que se acreditava anteriormente.
Pág. 298
A abordagem de Flannery foi fundamental para o entendimento da mudança de um ponto de vista sócio-estrutural. E chamou a atenção para uma fonte de condicionamentos impostos à conduta humana distintos, e aparentemente independentes, dos fatores ecológicos que os arqueólogos norte-americanos até então tinham levado em conta.
Pág. 302
A Nova Arqueologia deu origem a uma noção de amostragem mais sofisticada e produtiva, revelando os enviezamentos, com freqüência inconscientes, que regeram a pesquisa arqueológica tradicional e as inadequações de tais enfoques para entender as culturas pré-históricas como sistemas.
Pág. 304
Os críticos afirmam que a Nova Arqueologia representou uma revolução na técnica e na metodologia, mas não na teoria arqueológica propriamente dita. No entanto, a oposição de Binford ao enfoque histórico-cultural ainda influente nos Estados Unidos representou uma ruptura teórica com o passado não menos significativa que a metodológica.
Pág. 305
A Nova Arqueologia seguiu a liderança das ciências sociais generalizadoras como a economia, a ciência política, a sociologia e a etnologia, proclamando-se capaz de produzir generalizações objetivas e eticamente neutras, úteis à administração das sociedades modernas.
Pág. 307
[...] os adeptos da Nova Arqueologia usaram dados relativos ao legado dos povos nativos norte-americanos para formular generalizações que eles proclamavam relevantes para a compreensão da sociedade euro-americana.
Págs. 310-311
No começo da década de 1970, o paradigma evolucionista cultural, que tinha guiado interpretações de alto nível da Nova Arqueologia, sofreu uma transformação capital. Desde o final da década de 1950, o otimismo e a segurança das classes médias nos Estados Unidos tinha sofrido um sério desgaste por conta de uma sucessão de crises econômicas crônicas e profundas, exacerbadas por fracassos repetidos da política externa, especialmente no Vietnã.
Pág. 314
O evolucionismo cataclísmico tem curiosas semelhanças com a visão medieval da história, mas com Deus substituído por um processo evolutivo que torna os homens vítimas de forças fora de seu controle; parece ser o produto de uma sociedade capitalista avançada cujo desempenho não é satisfatório para uma grande parte da classe média.
Pág. 317
Tanto arqueólogos soviéticos quanto arqueólogos norte-americano chamaram atenção para as notáveis semelhanças entre a Nova Arqueologia e a criada na União Soviética no início da década de 1930 [...]. Porém, a despeito das semelhanças, houve uma diferença acentuada nas teorias de alto nível que orientavam as interpretações de dados arqueológicos.
Pág. 317-318
A Nova Arqueologia envolveu varias formas de determinismo ecológico e demográfico, que situam os principais fatores responsáveis por promover mudanças fora do sistema cultural e tratam os seres humanos como vitimas passivas de forças quase sempre além de sua compreensão e controle.
Pág. 318
Embora a Nova Arqueologia advogasse o estudo de todos os aspectos de sistemas culturais, as publicações arqueológicas mostram que a maioria dos novos arqueólogos concentraram-se em padrões de subsistência, comércio e, em menor grau, na organização social.
Pág. 319
[...] as técnicas adotadas pela Nova Arqueologia funcionam melhor no trato com os aspectos da cultura sujeitos a maior restrição. Os adeptos da Nova Arqueologia provavelmente erraram ao pressupor que condicionamentos ecológicos exerceriam a mesma influencia sobre todos os aspectos da cultura e, portanto, erraram em sentir-se justificados quando ignoravam fatores alternativos que configuram o registro arqueológico.
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