GASPAR, Madu. A arte rupestre no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
FICHAMENTO
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O que é atualmente o território brasileiro está repleto de testemunho arqueológico que guardam importantes evidências da história da colonização humana em nosso continente. São sítios arqueológicos [...] que contêm informações sobre o passado do que é hoje o território brasileiro e a diversidade cultural que foi, passo a passo, aqui se instalando.
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[...] São as pinturas e gravuras que foram feitas nas paredes de grutas sociais, em vários períodos [...]. Muitas vezes, esses grafismos fazem referência ao território, às práticas e às condutas de seus autores, bem como indicam locais importantes e de forte apelo emocional. O hábito de perpetuar mensagens em pedras e paredões tem longa duração e diferentes significados.
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[...] as diferentes manifestações de arte rupestre brasileira também integravam a vida cotidiana dos diferentes grupos pré-históricos que a produziram. Em certos caos, poderiam ser complementares à fascinante pintura corporal ainda praticada por algumas tribos brasileiras. Porém, fundamentalmente, é preciso ressaltar que o grafismo era parte integrante do sistema de comunicação do qual se preservaram apenas as expressões gráficas que resistiram ao tempo.
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[...] grafismos tão comuns nos registros rupestres como espirais, círculos radiados e linhas paralelas onduladas podem significar, ao mesmo tempo, dependendo do grupo cultural, símbolos femininos ou masculinos, incesto, o movimento das águas ou a piroga anaconda que transporta a humanidade. Quem poderia imaginar que uma simples linha, considerada em nossa cultura uma das mais simples formas geométricas, pode conter tantos significados?
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É preciso levar em conta que a organização dos painéis e até mesmo das figuras que os compõem pode ser o resultado final da intervenção de inúmeros pintores que se sucederam através de gerações [...]. Ao pintar um veado, acima ou ao lado de outro já existentes, o artesão podia querer reafirmar ou atualizar o significado do primeiro desenho ou então negá-lo, substituindo o animal.
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Ao contemplarmos um painel pré-histórico, sentimos a tentação de atribuir um sentido global ou final às figuras que o integram, pois é assim que apreciamos as obras de arte produzidas por nossa sociedade, onde há um distanciamento entre a produção e o consumo de arte.
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Arte rupestre consiste em manifestações gráficas realizadas em abrigos, grutas, paredões, blocos e lajes feitas através da técnica de pintura e gravura. As gravuras podem ser elaboradas através de picoteamento ou incisão; já as pinturas foram realizadas por meio de diversas técnicas: algumas, com a fricção de um bloco de pigmento seco e duro na pedra; outras, com o uso de um painel feito de galhos de árvore; em outros casos, a pintura foi feita com o próprio dedo ou o pigmento foi transformado em pó e sobrado na rocha.
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Ao analisar os grafismos rupestres os pesquisadores costumam fazer uma classificação inicial apoiada na técnica de confecção dos grafismos, opondo principalmente pintura à gravura. Esse contraponto parece ser pertinente para certas regiões onde só ocorre uma ou outra técnica, ou no caso de motivos que só foram representados de uma maneira ou de outra.
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[...] Alguns artesões escolheram locais de difícil acesso para executarem os grafismos; em virtude da altura em que se encontram foi necessária a construção de andaimes ou algum tipo de escada para se ter acesso aos paredões. Alguns grafismos têm alta visibilidade e parecem ter funcionado como uma espécie de marco na paisagem, em outros casos forma feitos em locais de difícil visualização e acesso. Pode-se dizer que foram feitos para permanecerem escondidos e, talvez, fossem locais restritos aos iniciados.
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Existe uma série de procedimentos para a realização dos estudos de arte rupestre. O primeiro de todos é a prospecção sistemática para a localização dos sítios arqueológicos; depois o estudo detalhado dos grafismos, que são fotografados com diferentes tipos de filme e geralmente decalcados com a utilização de plásticos transparentes que recobrem os desenhos. Com canetas pilot de diferentes cores são feitas enormes cópias em tamanho natural dos painéis. Levadas para o laboratório, são minuciosamente estudas, tentando-se identificar e ordenar as figuras, bem como estabelecer estilos, motivos, maneiras de representar e de distribuir espacialmente os grafismos.
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[...] Datar os grafismos pressupõe encontrar evidências que indiquem o momento de sua confecção – sejam vestígios orgânicos nos pigmentos (datação por meio de métodos físicos), sejam blocos caídos ou pigmentos de corante (datação por meio de materiais orgânicos associados).
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[...] Para que os arqueólogos possam compartilhar suas informações, a comunidade científica investe na elaboração de uma nomenclatura cientifica e na divulgação de técnicas e estratégias de registros da arte rupestre. São etapas distintas do trabalho de pesquisa que vão sendo realizadas e que, passo a passo, permitem construir um quadro de referência para a arte rupestre do Brasil.
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Para alguns pesquisadores, os grafismos podem ser explicados através do que se chama de arqueoastronomia, que pressupõe que grafismos representam fenômenos celestes como para do céu: estrelas, cometas e eventos astronômicos. Para outros, as figuras são expressões de viagens xamanísticas decorrentes da ingestão de drogas - supostamente responsáveis por imagens causadas pelos fosfenos correlacionados às figuras geométricas.
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[...] Cabe ao pesquisador pinçar o que é interessante e compor um corpo teórico que balize a interpretação do conjunto de grafismos estudados. Simples modismos passam rapidamente, mas contribuições de correntes teóricas bem fundamentadas são incorporadas definitivamente na produção do saber.
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[...] o registro arqueológico (produto do comportamento humano) também apresenta forte padronização, revelando-se como uma possibilidade de estudo da organização social.
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No período inicial da arqueologia brasileira (1870-1930), o tema que mais chamou a atenção dos pesquisadores foi a antiguidade da ocupação da região de Lagoa Santa, especialmente as descobertas que tentaram relacionar os primeiros caçadores com os ossos de megafauna encontrados em grutas e abrigos de Minas Gerais.
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Os grafismos rupestres são mencionados desde o século XVI. Alfredo Mendonça de Souza oferece uma interessante histórico das pesquisas, e assinala que Lamentações brasílicas, obra do padre Francisco Teles escrita entre 1799 e 1817, registram 274 sítios arqueológicos com gravações e pinturas no Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Pernambuco.
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[...] O padre Francisco Teles não só realizou um levantamento detalhado de sítios rupestres, como, em certo sentido, inaugurou duas importantes correntes interpretativas deste tipo de testemunho arqueológico: a vertente que vê os grafismos como uma linguagem e a que os torna como referências astronômicas.
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[...] Alguns estudiosos achavam que [os grafismos] eram resultado da ação de partículas ferruginosas na pedra ou indícios da presença de Atlântidas no território brasileiro. As especulações sobre as marcas existentes na Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro, são um bom exemplo sobre as preocupações da época. Para muitas, essas marcas, resultado de processos naturais que ocorrem na rocha, eram o mais vivo testemunho da passagem de fenícios pelo que viria a ser o território brasileiro.
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O primeiro trabalho mais extenso sobre arte rupestre, publicado em 1887 por Tristão de Alencar Araripe, afirmava se tratar da obra humana e de grande antigüidade, ressaltando, assim, a importância de seu estudo.
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As diferentes linhas de interpretações da arte rupestre explicitam as noções que permeavam o imaginário da intelectualidade da época, sobre o indígena que ocupava o território brasileiro. Por um lado, os testemunhos arqueológicos seriam resultado do ócio do indígena e não passavam de simples rabiscos inconseqüentes, não tendo portanto valor algum. Por outro, eram repletos de significados, o que eliminaria a hipótese de terem sido feitos pelos nativos ou seus antecedentes.
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[...] Em 1937, Herbert Baldus elaborou a primeira visão antropológica da arte rupestre ao estudar as pinturas de Santana da Chapada. Em 1941, José Anthero Pereira Jr. refutou as interpretações fantasiosas sobre a autoria dos grafismos – fenícios, holandeses, ciganos, atlântidas, entre outros – classificando-os segundo a técnicas e estilo de elaboração, etapa fundamental de todo estudo moderno de grafismos.
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A equipe que estuda os grafismos da Serra da Capivara, no Piauí, data algumas pinturas ali realizadas em cerca de 26 mil anos. Como todas as referências cronológicas relacionadas aos primórdios da ocupação de qualquer território, esta data para os grafismos mais antigos brasileiros também é polêmica, pois coloca em questão o período da chegada do homem às Américas.
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Quando se quer discutir o início da ocupação de uma região ou os primeiros grafismos, o ponto central não é aceitar uma ou outra referência cronológica, e sim ter a clareza de que, quanto mais antiga uma manifestação pré-histórica, mais difícil é a obtenção de dados que consolidem uma hipótese de trabalho.
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[...] a pesquisa arqueológica organizada em moldes científicos modernos é extremamente recente no Brasil, com os primeiros projetos remontando apenas à segunda metade da década de 1960. Nesse período prevalecia a idéia, defendida fortemente por arqueólogos americanos, de que a chegada do homem à América seria um fato recente.
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[...] Niéde Guidon obteve uma série de datas bem recuadas para sítios no Parque Nacional da Serra da Capivara, e tem discutido o tema com pertinência mas sem total aceitação pela comunidade de arqueólogos. O sítio Boqueirão da Pedra Furada apresenta datas que se aproximam de 50 mil anos.
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[...] apesar da escassez e fragilidade das evidências existentes, um crescente número de pesquisadores começa a aceitar a idéia de que o homem teria penetrado na América em data mais recuadas, aproveitando diferentes momentos da formação da passagem pelo estreito de Bering, criando condições para que diferentes levas de grupos humanos migrassem para o continente americano.
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[...] é importante saber que as informações disponíveis asseguram que a partir de 12.000 AP o território brasileiro já estava ocupado e que muito cedo os caçadores começaram a decorar as paredes rochosas com grafismos. Mais ainda, que este habito perdurou até o período de contato com os europeus. Foi entre os grupos de caçadores que surgiu o habito de pintar e gravar as paredes de pedras.
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A tradição Meridional é uma manifestação que ocorre no sul do Brasil e em outros países da fronteira. [Nessa tradição] A atemática é considerada pobre e pode ser divida em dois grupos. Um dos estilos caracteriza-se pela presença de traços retos paralelos ou cruzados, sendo alguns curvos [...]. O outro estilo caracteriza-se pela presença de séries de círculos maiores, cada um rodeado na parte superior por círculos menores, parecendo formar pegadas de felídeos.
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Os painéis gravados da tradição Litorânea Catarinense estão situados em ilhas, em locais de difícil acesso e até mesmo perigosos, chegando a distar 15 quilômetros da costa e estando orientados para o alto-mar [...]. As gravações foram feitas no granito, através da técnica do polimento e os sulcos têm até 4 cm de largura [...].
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Atravessando o planalto de Sul até o Nordeste, cortando os estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso, são encontradas as manifestações que compõem a tradição Geométrica, que como o nome diz, caracteriza-se quase exclusivamente por gravuras geométricas.
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As manifestações mais setentrionais referem-se a sítios gravados nas imediações dos rios, particularmente nas proximidades de cachoeiras [...]. As gravuras geralmente são polidas, ocorrendo muitas depressões esféricas chamadas de cupuliformes pelos arqueólogos. Aparecem algumas representações biomorfas que lembram sáurios ou homens. A Pedra Lavrada, de Ingá, na Paraíba, é um dos exemplos bem conhecidos.
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A tradição Planalto está presente em muitos sítios do Planalto Central brasileiro, do Paraná até a Bahia, sendo o seu foco principal o centro de Minas Gerais. A maioria dos sítios apresenta grafismos pintados em vermelho, embora ocorra também alguns nas cores preta, amarela e mais raramente branca.
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A tradição Nordeste ocorre nos estados do Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte, para da Bahia, Ceará e norte de Minas Gerais. São pinturas monocromáticas e gravuras que representam homens, animais (emas, cervídeos e pequenos quadrúpedes) e algumas figuras geométricas. Porém, o que a distingue da tradição Planalto é a abundância de antropomorfos agrupados formando cenas de caça, danças, guerra, sexo, rito, entre outras. Os homens seguram armas (bastões, propulsores), cestas e outros objetos.
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A tradição Agreste manifesta-se nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Piauí, caracterizando-se pela presença de grande figuras, geométricas ou bioformas, sendo que as figuras humanas lembram espantalhos. As emas e os quelônios são representados de maneira estática e há também pássaros de asas abertas e longas pernas, alguns lembrando figuras humanas. As cenas são raras e delas participam poucas figuras, como por exemplo homens caçando ou pescando.
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A tradição São Francisco é típica do vale do Rio São Francisco, em Minas Gerais, Bahia e Sergipe e nos estados de Goiás e Mato Grosso. Nos grafismos predominam os motivos geométricos, mas verificam-se também desenhos que representam formas humanas e animais (peixes, pássaros, cobras, sáurios e algo parecido com tartaruga). Não existe nenhuma cena e, na maioria dos casos, as figuras são feitas em duas cores. Como outras tradições, também apresenta variedades regionais que contam com representações de pés humanos, armas, instrumentos.
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Antropomorfos simétricos e geometrizados caracterizam a tradição Amazônica - ainda pouca estudada, principalmente se comparada às tradições Planalto, Nordeste ou São Francisco, que já contam com levantamentos sistemáticos e detalhados. Nas margens dos rios Cuminá, Puri e Negro, as cabeças de figuras humanas gravadas geralmente são radiadas, enquanto nas proximidades de Monte Alegre são pintadas.
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A Amazônia é ainda uma imensa região a ser estudada pela arqueologia. Ocupada desde 11.200 anos AP, conta com a cerâmica mais antiga das Américas e com uma diversidade de formas, acabamentos e motivos aplicados aos vasilhames de barro que dão uma leve idéia do que deve ter sido esse caldeirão de efervescência cultural.
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[...] Gabriela Martin chama atenção para as itaquatiaras, gravuras realizadas nas rochas localizadas às margens dos rios do Norte e Nordeste. Destaca especialmente a Itaquatiara do Ingá ou Pedra Lavrada do Ingá na Paraíba, que antes da destruição provocada pelos fabricantes de Lages tinha inscrições formadas por uma linha contínua e uniforme por aproximadamente 1.200 m².
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[...] Materiais orgânicos podem ser datados através da análise de Carbono-14 e, com o desenvolvimento desta técnica, atém mesmo pequenas partículas podem ser analisadas através do accelartor mass spectrometry.
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Nos casos dos grafismos realizados em paredões ou cavernas com sedimentos, é possível correlacioná-los aos materiais arqueológicos recuperados no solo; porém, é preciso levar em conta vários aspectos relacionados com a formação dos sítios arqueológicos. Muitos sítios foram ocupados, em diferentes épocas, por distintos grupos culturais e é difícil estabelecer qual deles é o responsável pelos grafismos ou pelos diferentes conjuntos de grafismos que decoram as paredes.
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Os primeiros artesãos pintaram pequenas figuras vermelhas, biomorfos de corpo arredondado e membros filiformes, pares de bastonetes com círculos nas extremidades, sinais geométricos muito simples, cobras finas e muito onduladas e sinais em forma de asterisco.
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Os artesãos preparam a superfície para execução das gravuras com uma camada de tinta vermelha, comportamento que materializa a violenta ruptura cultural com o passado.
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A equipe da Fundação Museu do Homem Americano, que estuda sistematicamente a pré-história do Piauí, especialmente a região de São Raimundo Nonato, fornece uma interessante reconstituição da evolução dos grafismos.
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[...] Anne-Marie Pessis e Niéde Guidon, apoiando-se em modelo da lingüística, consideram que os grafismos funcionam como verdadeiros sistemas de comunicação social e que as tradições de pintura e gravura poderiam ser comparáveis a famílias lingüísticas, na qual línguas distintas evoluem.
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Na área do Parque da Serra da Capivara forma identificadas três tradições de pinturas e duas de gravura. A tradição Nordeste foi a mais representada [...] O apogeu dessa tradição ocorreu por volta de 10 mil anos atrás e coincide com a presença de artefatos líticos muito bem acabados. Supõe-se, ainda, que nesse período tenham ocorrido crescimento demográfico, aumento da diversidade cultural e início da dispersão do grupo pelo Nordeste.
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A tradição Nordeste tem a peculiaridade de ser extremamente narrativa, com a representação de diferentes aspectos da vida cotidiana do grupo que a elaborou. As pinturas indicam que caçavam com diversos instrumentos: o veado era perseguido com tacapes, a onça era atacada utilizando-se propulsores e azagaias, o tatu era caçado a mão e abatido com golpes de tacape ou pego pelo rabo. Não existe nenhuma indicação de uso de arco e flechas, no combate entre dois ou mais indivíduos: as armas utilizadas são propulsores e azagaias.
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Outra tradição identificada na região é a Agreste [...] composta pela representação de figuras humanas e alguns animais, conta com um numero significativo de grafismo puros, isto é, aqueles desprovidos de traços que permitem identificá-los com uma representação de nosso universo sensível. Caracteriza-se pelo impacto visual do intenso preenchimento das figuras com corantes vermelhos, sendo raras as cenas; as figuras são representadas de forma estática.
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[A tradição Agreste] É originária da região agreste de Pernambuco, sendo suas manifestações mais antigas datadas de 11 mil anos AP. com grande dispersão em todo o Nordeste, caracteriza-se também por ser intrusiva nos sítios onde ocorrem grafismos classificados como pertencentes à tradição Nordeste, havendo uma certa preferência de seus pintores em sobrepor suas contribuições pictóricas às que foram feitas pelos grupos identificados como da tradição Nordeste.
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O interesse pela pré-história brasileira é antigo e remonta à época da colonização pelos europeus, mas a disciplina, propriamente dita, é recente. Os primeiros projetos acadêmicos são da década de 1960 e, por isso mesmo, resta um amplo universo a ser estudado. No que se refere à arte rupestre, parte significativa dos levantamentos já foi realizado e agora começam a surgir resultados interessantes sobre o processo de produção dos painéis, quer seja a sucessão de figuras que acabaram por decorar a pedra, quer seja a própria composição química das tintas.
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[...] O estudo da arte rupestre apresenta um domínio do simbólico extremamente complexo que, passo a passo, vai sendo desvendado pelos estudiosos da pré-história brasileira.
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